“Facebook é avaliado em US$ 70 bilhões
O valor foi apurado depois que o fundo de investimentos GSV Capital comprou 225 mil ações da empresa por US$ 29,98 cada. A partir desse preço, o Facebook, com suas 2,4 bilhões de ações atuais, segundo a Sharepost - que acompanha o mercado secundário - passaria a valer cerca de US$ 70 bilhões.”
Esse é o segundo post em uma série que trata direito na internet. Hoje vamos falar de um dos assuntos mais mal compreendidos pelos internautas e que gera uma incrível quantidade de desentendimento.
Reparem que a empresa que gera a rede social acima foi avaliada em algo como R$112 bilhões. Mas nem você nem eu pagamos para utilizá-la. Logo, de onde vem esse valor? O valor é a estimativa de quanto essa empresa gerará em lucros no presente e no futuro. Mas se não pagamos pelo uso, de onde vem lucro? Das empresas e agências de publicidade que a usam para propagandear seus produtos e serviços. Bem, até aqui todo mundo compreende sem qualquer problema. Mas é aí que vem o pulo do gato que pouca gente leva em conta:
O modelo econômico dessas empresas separa usuários de clientes. Nós somos usuários, mas não somos clientes. Seus clientes são as empresas e agências. São elas que estão pagando a conta. A consequência disso é que a lealdade financeira essencial dessas empresas não é para com o usuário, mas para com o cliente.
E é aí que entra o problema com a privacidade. Nós, usuários, somos, em essência, o produto que está sendo vendido. Estamos para as redes sociais assim como as vaquinhas estão para o fazendeiro: tanto o fazendeiro quanto empresas como Facebook, Orkut e Google precisam de nós (as vaquinhas) e por isso não nos maltratam, mas seus clientes são os abatedouros, fábricas de laticínio e agências de publicidade.
E por que alguém pagaria R$ 112 bilhões para fazer propaganda para mim ou para você em vez de comprar boa parte das editoras de revista do mundo pelo mesmo valor? (O mercado global de revistas era estimado na ordem de R$ 157bi em 2006).
Porque as editoras sabem muito pouco a seu respeito porque você só interage com ela no momento da assinatura (isso se você se der ao trabalho de assinar!). Mesmo que você seja assinante (em vez de comprar na banca), o que ela sabe de você é seu nome, endereço, sua conta bancária e que você é assinante da revista. Ela sequer sabe quais artigos você lê em cada edição. Ela não sabe onde você vai nas horas vagas, quem são seus amigos, o que você anda lendo, onde você gasta seu dinheiro, quais são seus planos etc. Já as redes sociais sabem. Sabem porque perguntam e sabem, principalmente, porque nós contamos a elas. De graça. Essa é a essência de uma rede social. Nós dizemos quem são nossos amigos, no que estamos interessados, quanto tempo gastamos lendo esse artigo ou ouvindo aquela música, etc. Enfim, ela sabe muito a nosso respeito. E esse conhecimento faz com que o espaço publicitário que ela vende às agências seja muito mais valioso pois ela pode dizer à agência exatamente quem deve receber a publicidade. É como se o fazendeiro pudesse dizer ao abatedouro que nossa carne é de melhor qualidade porque fomos monitorados desde o nascimento, e por isso ele pode cobrar mais quando for nos vender.
Quando você decide usar um sistema como Google (Gmail etc), Yahoo, Facebook etc, você está, na prática, dando autorização a esses serviços para usarem suas informações para fazer publicidade para você mesmo. Em troca, o fazendeiro alimenta a vaquinha e essas empresas nos dão serviços (muitos deles fantásticos) de graça.
Óbvio que essas empresas não vendem as suas informações pessoais de forma identificável; ou seja, a agência não sabe que você é o Zezinho que mora no Rio e têm 34 anos. Mas se ela escolher vender o produto para quem mora no Rio e tiver na faixa entre 30 e 35, Zezinho provavelmente verá a propaganda dela em sua tela.
Mas e daí? E daí que nossas leis ainda não estão preparadas para lidarem com essa inversão do modelo econômico. Se você não é o cliente, mas apenas usuário, quais são seus direitos? E se a empresa resolver tirar seu serviço do ar de uma hora para outra e você perder todos seus emais? Você nunca pagou por eles. Você tem direito a reclamar? Essa é uma diferença fundamental (mas que pouca gente presta atenção nas consequências) entre empresas que geram suas receitas usando o modelo tradicional (Microsoft, Apple etc), em que o beneficiário e usuário são a mesma pessoa (e que cobram por isso), e aquelas empresas que usam o modelo da 'nova economia' (e não nos cobram por seus serviços).
Semana passada, por exemplo, Google anunciou o fim do Google Health, onde as pessoas mantinham seus históricos médicos. Ano passado ele colocou fim ao Google Wave. Em ambos os casos, havia bilhões de informações pessoais armazenadas em ambos os sistemas. O Google não está indo à falência (pelo contrário), e por isso concedeu um período de mais de um ano para as pessoas retirarem seus dados de seu sistema antes de finalmente desligar a tomada. Mas e se tivesse e o serviço fosse descontinuado? A própria Folha noticiou hoje que outra rede social perdeu mais de 82% de seu valor e demitirá mais da metade de seus empregos:
Enfim, até que existam leis claras, sua melhor estratégia é apenas colocar na internet informações que você não ficaria contrariado se caíssem nas mãos de um desconhecido (ou de sua mãe), e manter cópias em seu computador, impressas etc daquilo que você não quer perder.