"Minha solução para o problema é dizer a eles que recolham seus chifres... ou vamos bombardeá-los de volta à idade da pedra". A declaração do comandante Curtis LeMay, então responsável pela forca aérea americana, foi feita em novembro de 1965 como alerta ao líderes do Vietnã do Norte.
A guerra se perpetuou por mais uma década e terminou com a primeira derrota da maior força militar do planeta, mesmo depois de a força aérea americana ter despejado 14,3 milhões de toneladas de bombas no país.
A primeira das modernas guerras de guerrilha, que se tornaram a regra hoje, é estudada por todas as forças armadas profissionais de países desenvolvidos desde então. Mas eles continuam perdendo tais guerras.
Daí o espanto causado pela afirmação feita pelo ministro do Interior israelense, Eli Yishai, de que se as hostilidades não terminarem, o país pretende "mandar Gaza de volta à Idade Média". Em guerrilhas, poderio militar não se traduz em necessária vitória.
Mas o erro não é apenas retórico. É também jurídico e estratégico.
Guerras têm limites legais. Líderes respondem pelos excessos de seus comandados quando práticas ilegais se tornam política de governo.
A declaração de Yishai pode, mais tarde, ser usada para demonstrar que havia uma política predeterminada de extermínio. Começar uma guerra já nessa posição é perigoso porque ela cria uma presunção de excessos. Todas as ações israelenses serão analisas a partir desse prisma.
Do ponto de vista estratégico, estamos em águas nunca dantes navegadas. Ninguém sabe ao certo qual será o comportamento de longo prazo dos dois países que tradicionalmente intermediaram a paz entre Israel e Palestina. No Egito, Mubarak se foi e o novo governo é sustentado por uma frágil coalizão liderada pela Irmandade Muçulmana. Na Jordânia, a população está nas ruas protestando contra o monarca e o pais está mergulhado em crise fiscal.
Seus movimentos populares - ainda que democráticos - não significam uma aproximação com os valores ocidentais. A vitoria nas urnas do Hamas em Gaza é prova disso.
Como se isso não bastasse, há a ameaça iraniana, e a Síria, tradicional aliada do Hizbolah, no Líbano, está há um ano e meio em guerra civil e o regime de Assad pode tentar usar uma guerra religiosa contra um inimigo comum como derradeira cartada para congregar sua própria população.
E os EUA, mais tradicional aliado israelense, está há uma década enrolado em duas guerras trilhonárias em países muçulmanos e tentando recuperar-se de sua pior crise financeira desde da década de 1930.
Nunca uma solução pacífica foi tão importante para o conflito entre palestinos e israelenses.