As primárias
As eleições americanas, como no Brasil, possuem duas fases (ou ‘eleições consecutivas’): a indicação pelo partido (“primárias”) e a eleição do presidente em si (pelo colégio eleitoral, no caso dos EUA).
Caucus
Tudo começa com a escolha dos candidatos de cada partido. Ao contrário do que imaginamos, os EUA não possuem um sistema bipartidário. Pelo contrário: existem dezenas de micropartidos no país. É bem verdade que apenas dois partidos – Democrata e Republicano – realmente têm poder, mas isso não quer dizer que haja uma restrição legal à existência de diversos candidatos. Nomes como o do bilionário Ross Perot e do ativista Ralph Nader acabaram concorrendo filiados a partidos menores, como o Reformista (Reform Party), Verde (Green) e mesmo de forma independente (sem partido, o que seria proibido no Brasil). A importância prática desses candidatos de partidos pequenos está no fato de que, por eles estarem normalmente nos extremos (extrema ‘direita’ ou ‘esquerda’), eles acabam sugando votos daqueles candidatos do grande partido que está mais próximo de suas plataformas. Em outras palavras, os candidatos da extrema direita tendem a sugar votos do partido Republicano (que é mais conservador) e os candidatos de extrema esquerda tendem a sugar votos do partido Democrata (que é mais liberal).
Existem dois mecanismos de escolha de candidatos nos dois principais partidos (Democrata e Republicano): primárias e caucus (não vou tentar traduzir este termo porque não temos um equivalente direto em português. O termo não tem nada a ver com a região dos caucasos (caucasus, em inglês), como aparece em vários jornais e TVs no Brasil. A melhor definição para caucus seria algo como "reunião de bairro").
As primárias constituem eleições nas quais os eleitores votam em "delegados compromissados" (pledged), ou seja, pessoas que se comprometem a votar em determinado pré-candidato. Os delegados, a bem da verdade, são compromissados apenas do ponto de vista moral, pois podem muito bem mudar de opinião e votar em outro pré-candidato daquele partido.
Primárias abertas e fechadas
Existem dois tipos de primárias: abertas e fechadas, e se será uma ou outra vai depender do Estado no qual ela se realiza. Nas primárias abertas, qualquer pessoa pode votar em um pré-candidato de qualquer partido, não importando se o eleitor é registrado em outro partido (no Brasil, seria o equivalente a um militante do PT votar na escolha do pré-candidato do PSDB). Mas, e isso é importante, cada pessoa só pode votar uma única vez (ou seja, o eleitor não pode votar em um pré-candidato de cada partido). Os Estados que possuem primárias abertas são: Alabama, Arkansas, Geórgia, Idaho, Indiana, Michigan, Minnesota, Mississipi, Missouri, New Hampshire, North Dakota, Ohio, South Carolina, Tennessee, Texas, Vermont, Virginia, Washington, Wisconsin (observação: Geórgia, New Hampshire, Ohio e Texas possuem o que muitos chamam de sistema semi-aberto, no qual antes das primárias o eleitor deve declarar em qual partido deseja votar. Essa declaração normalmente é feita através da requisição de uma cédula de eleição daquele partido).
Já nas primárias fechadas, apenas os eleitores registrados em determinado partido podem votar em pré-candidatos daquele partido. Os Estados/protetorados com primárias fechadas são: Colorado, Connecticut, Delaware, Washington DC, Florida, Kentucky, Maryland, Nebraska, New Mexico, New York, North Carolina, Oklahoma, Oregon, Pensilvânia, Porto Rico, South Dakota, Utah, West Virginia.
Existem vantagens e desvantagens nos dois sistemas de primárias: nas primárias fechadas, os eleitores independentes (não afiliados a um partido) são impedidos de votarem em quem melhor representa seus interesses, mas ao mesmo tempo, este sistema impede que eleitores de outro partido se infiltrem para votar no candidato mais fraco, o que beneficiaria o candidato de seu próprio partido no momento da eleição. Por isso Arizona, Massachusetts, Rhode Island possuem o que chamam de semi-fechado, onde os eleitores independentes e os eleitores filiados ao partido podem votar em um pré-candidato daquele partido, mas os eleitores de outro partido não podem. Já a Califórnia possui o que se chama de sistema fechado modificado, o qual permite a cada partido decidir se aceitara ou não voto de eleitores independentes (ou de outros partidos menores).
No caucus as pessoas se reúnem (em casas, escolas, bibliotecas, igrejas etc) e debatem quem é o melhor pré-candidato para defender suas ideais e escolhem delegados de bairro que se alinham com o pré-candidato de sua preferência. Esses delegados de bairro, por sua vez, se reúnem posteriormente com seus colegas escolhidos em outros bairros e escolhem, por sua vez, delegados municipais que se alinham com este ou aquele pré-candidato. Esses delegados municipais, por sua vez, se reúnem posteriormente com seu colegas escolhidos em outros municípios para escolherem delegados distritais que se alinham com o pensamento deste ou aquele pré-candidato. Por fim, esses delegados distritais se reúnem com seus colegas de outros distritos e escolhem delegados estaduais que se alinham com este ou aquele pré-candidato. São esses delegados estaduais que representarão os eleitores na convenção nacional do partido. E da mesma forma como há primárias aberta, há caucus aberto (Hawaii, Minnesota, North Dakota, Washington) e fechado (Alaska, Colorado, Iowa, Kansas, Louisiana, Maine, Nevada, New México, Texas, Wyoming). Texas e Washington possuem tanto primárias quanto caucus, com regras especificas e que não vale a pena entrar em detalhe aqui.
Existe um ultimo detalhe a respeito destes delegados: no partido Democrata, impera o sistema proporcional, ou seja, cada candidato recebe o número de delegados estaduais proporcional ao número de votos recebidos (exceto os candidatos com menos de 15% dos votos, que são automaticamente excluídos). Já o partido Republicano possui regras distintas em cada Estado. Em alguns Estados, a regra é de votos proporcionais (sem a regra dos 15%), e em outros Estados a regra é o sistema majoritário (o pré-candidato mais votado leva todos os delegados daquele Estado e o segundo pré-candidato mais votado não leva nada, ainda que a diferença tenha sido de um único voto).
Assim são escolhidos os chamados delegados compromissados distritais (que, ao contrário do que o nome diz, podem, na verdade, acabar votando em outro pré-candidato na convenção nacional). Mas eles não são os únicos.