“Pai lamenta sumiço de Henrique Pizzolato
Pedro Pizzolato, 85, está exausto. Cabelos branquíssimos, forte sotaque italiano, aparenta verdadeira timidez ao confessar que tem precisado recorrer a tranquilizantes 'tarja preta' desde o anúncio da fuga do filho, Henrique Pizzolato, 61, no último dia 16.
Filho querido entre uma prole de dez, o ex-diretor do Banco do Brasil, condenado a uma pena de 12 anos e sete meses de prisão por seu envolvimento com o esquema do mensalão, partiu para a Itália sem avisar o pai. Só uma irmã conheceu o plano antes (...)
Para Pedro, o pai, é como se tivesse perdido o filho para sempre. Idoso, ele não anda de avião desde que, há 20 anos, um monomotor em que viajava despencou centenas de metros no céu. Fobia. De navio, acha que não aguenta viajar”.
A ideia de cometer um crime e fugir pode parecer atraente para um criminoso, mas a matéria acima serve para ilustrar como o custo pessoal pode tornar essa opção intolerável.
Para efeitos de exemplo, um réu condenado a 12 anos e 7 meses terá sua pena prescrita em 20 anos. Ou seja, se o pai do réu tem hoje com 85 anos, estará com 105 quando seu filho finalmente puder retornar ao Brasil sem o risco de ser preso. Se voltar antes disso, será preso para iniciar o cumprimento de sua pena. Como não cumpriu parte da pena antes de fugir, teria que começar a cumpri-la do zero.
Mas se não tivesse fugido, mesmo iniciando o cumprimento da pena em regime fechado, na pior das hipóteses provavelmente já estaria em regime semiaberto em dois anos, um mês, já que, como réu primário, progrediria com um sexto da pena restante cumprida. Do regime semiaberto, progrediria para o regime aberto menos de 21 meses depois. Já em regime aberto, poderia pedir a prisão domiciliar para cuidar do pai idoso. Mesmo que a Justiça não concedesse a prisão domiciliar, teria direito à liberdade condicional depois de cumprir um terço de sua pena (menos de 4 anos e 4 meses). Ou seja, o pai estaria com 89 quando pai e filho pudessem estar juntos todo o tempo.
Segundo o IBGE, a expectativa de sobrevida de pessoas acima de 80 anos é de 8,7 anos. Ou seja, alguém que chegou aos 80 anos, deve sobreviver até os 88,7 anos, e alguém que chegou aos 85 deve chegar até os 93,7 anos*. Como se tivesse começado a cumprir a pena imediatamente, o condenado estaria em regime aberto com o pai aos 89 anos. Ainda teria outros quatro anos para desfrutar dos últimos anos de sua presença.
Logo, a possibilidade de o filho voltar a desfrutar a presença do pai, e vice-versa, passou a ser muito menor porque resolveu fugir. Por isso o pai está certo ao declarar na reportagem acima que "é como se tivesse perdido o filho para sempre".
Mas digamos que o condenado continue foragido e em 10 anos ele sinta remorso e resolva finalmente que não vale a pena privar seu pai de sua presença e que o melhor é voltar ao Brasil, cumprir sua pena rapidamente e desfrutar os últimos anos de vida de seu pai. Mas como ele terá de começar a cumprir a pena do zero (o tempo foragido não conta), dez anos terão transcorridos. Seu pai, presumindo que esteja vivo, estará com 95 anos quando ele começar a cumprir os pouco menos de quatro anos de pena para chegar ao regime aberto. Ou seja, seu pai estará com 99 anos quando ele chegar ao regime aberto. O foragido terá adicionado dez anos de separação entre ele e seu pai desnecessariamente. Novamente, as chances de reencontrar o pai com vida terá diminuído desnecessariamente por causa de sua fuga.
Analisado de forma fria, o filho precisa decidir o quanto antes se quer voltar a ver o pai com vida. Se quiser, quanto mais adiar seu retorno para cumprir sua pena, pior. Se não quiser, é melhor ficar foragido na Itália por, no mínimo 20 anos. Sentir remorso no meio do caminho é a pior das opções.
* Na verdade, o valor deve ser um pouco maior no primeiro caso (alguém com 80 anos tem uma expectativa de sobrevida acima de 8,7 anos) e um pouco menor no segundo (alguém com 85 anos tem uma expectativa de sobrevida um pouco abaixo de 8,7 anos) porque o IBGE consolida a expectativa de sobrevida de todas as idades acima de 80 anos, mas na prática o número de anos de sobrevida cai com o avançar da idade. Para efeitos dos cálculos acima, essas pequenas variações não teria impacto nas conclusções.