“PT e PSDB apostam tudo por 2º turno
O empate técnico, agora acentuado, deverá fazer com que intensifiquem o uso das armas de que dispõem para garantir a ida ao segundo turno.
Serra elegeu o candidato do PT como alvo preferencial de ataques no primeiro turno. Falou do mensalão, criticou suas propostas e lembrou problemas em sua gestão no Enem, tudo para impedir a tal ultrapassagem nas pesquisas.
Até aqui, vinha evitando bater no líder Celso Russomanno, mas a necessidade de desidratar seu favoritismo num eventual segundo turno, sentida tanto por PT quanto por PSDB, o levou a lançar mão do rádio para começar a questionar o candidato do PRB e sua falta de propostas (…)
No QG haddadista, a ordem é apostar tudo na trinca Lula-Dilma-Marta para empurrar o candidato para a segunda etapa da disputa”
A eleição em dois turnos (como acontece nas cidades com mais de 200 mil eleitores) é certamente mais justa que a em um único turno com o voto em um único candidato (como acontece nas cidades menores). Mas ela não é perfeita.
Isso porque em corridas com três candidatos na qual um deles dispara logo no início – como o caso da eleição da matéria acima – surge uma lógica perversa contra os outros dois candidatos.
A chance de o primeiro colocado não ir ao segundo turno é mínima. E só há dois lugares disponíveis no segundo turno. Logo, para o segundo e terceiro colocados, a melhor estratégia para chegar ao segundo turno é tirar o outro da corrida. O segundo colocado centra o foco no terceiro, e vice-versa.
Mas isso gera duas consequências:
Primeiro, o segundo e o terceiro colocados ficam tão envolvidos em sua batalha privada que se esquecem do inimigo comum: o primeiro colocado, que acaba se fortalecendo tanto com os votos dos eleitores desiludidos com a batalha entre o segundo e o terceiro colocado, como com os eleitores indecisos já que, afinal, o primeiro colocado aparentemente não tem nada contra si (os outros dois candidatos tendem a focar nos problemas do inimigo direto e não do primeiro colocado). O risco aqui é que os dois se firam tanto nesse combate que o primeiro colocado ganhe a eleição já no primeiro turno. Ou, chegando ao segundo turno, não tenham qualquer força para lutar contra um inimigo muito mais forte.
Segundo, e mais importante, não importa se será o segundo ou o terceiro colocado que conseguirá votos o suficiente para conquistar o direito de concorrer no segundo turno: sua única chance de vencer o até então primeiro colocado é abarcando votos do candidato derrotado. Aquele mesmo contra o qual ele passou meses brigando diuturnamente. O resultado, óbvio, é que ele dificilmente conseguirá apoio daquela pessoa e, por conseguinte, de seus eleitores fieis. Em outras palavras, ele terá sobrevivido à batalha do primeiro turno, mas não vencerá a guerra eleitoral.
Mas esses são indivíduos inteligentes. Eles conseguem fazer esses cálculos básicos de lógica. Por que então eles agem assim?
Porque eles não estão lutando apenas para vencer uma eleição (se vencerem, ótimo!), mas estão lutando pela própria sobrevivência política.
O candidato derrotado responde a seu partido. Se ele não consegue sequer chegar ao segundo turno, a probabilidade de seu partido descartá-lo é muito maior do que se ele se mostrar forte o suficiente para ser um líder da oposição. E como ele mostra essa força? Nada melhor do que chegando ao segundo turno.
Do ponto de vista de poder, uma posição de liderança partidária é importante. Líderes partidários controlam uma enorme massa de dinheiro (fundo partidário etc) e cargos.
Além disso, ele pode não ter vencido aquela eleição, mas há sempre prêmios de consolação para líderes fortes. Um ministério aqui, uma secretaria estadual acolá. Aquele indivíduo mostrou que é capaz de amealhar uma quantidade significativa de votos (o suficiente para colocá-lo no segundo turno), e seu partido ou coligação que controla outras esferas de poder certamente o quer manter por perto.
Mas existe um terceiro motivo pelo qual esses indivíduos racionais se atacam sabendo das consequências: muitos deles de fato acreditam que podem vencer as eleições. Seja porque acreditam que as pesquisas estão erradas, seja porque acreditam numa virada, seja porque acreditam que têm algo importante a dizer, ou seja porque já investiram tanto que se torna difícil lidar com a ideia de que foi uma perda de tempo (em inglês há uma expressão para isso - 'sunk cost' - e ajuda a explicar por que alpinistas muitas vezes escolhem caminhar para a própria morte em vez de darem meia volta, por que casais que se odeiam continuam casados, e por que você continua assistindo um filme ruim até o fim).