Desde a antiguidade as olimpíadas têm sido usadas como palco de tentativas de afirmanção de superioridade e reafirmação de igualdade. As olimpíadas de 2012 não fogem à regra e devem entrar para a história como a mais inclusiva até hoje. E não foi só por conta das cores estrategicamente escolhidas (o rosa não aparece na bandeira de nenhum país). Para ser inclusiva ela primeiro precisa dar a todos o mesmo direito de competir.
Em 2012, pela primeira vez nas história as mulheres tiveram o direito de competir em todos os esportes que os homens competem.
As mulheres foram excluídas dos jogos ou de vários eventos esportivos até hoje. Mesmo a maratona, o principal evento de qualquer olimpíada, só passou a ser disputado pelas mulheres em 1984. Nesse ano, com a inclusão oficial do boxe feminino, as mulheres estão competindo oficialmente em todos os eventos, ainda que alguns esportes não sejam praticados da mesma forma por mulheres e homens (na ginástica com aparelhos, por exemplo, as mulheres competem em barras assimétricas enquanto os homens competem em uma única barra. E mulheres ainda não competem nas argolas). Já em outros esportes, como hipismo, homens e mulheres competem sem distinção de gênero e se enfrentam diretamente.
E até países que restringem a liberdade feminina – como a Arábia Saudita – enviaram pela primeira vez atletas mulheres para competir.
Ainda que atrasados e insuficientes, já são todos passos enormes no tratamento igualitário entre os gêneros.
As olimpíadas de 2012 também consolidaram os passos iniciais na inclusão de deficientes físicos. Não por uma política de inclusão específica, mas porque deficientes se mostram tão bem preparados quanto qualquer outro competidor. Oscar Pistorius, o corredor sem pernas da África do Sul, se tornou símbolo da luta pelo direito de competir, e o arqueiro sulcoreano Im Dong-hyun, que é legalmente cego (possui apenas 10% da visão no olho esquerdo e 20% no direito), levou o bronze (já havia levado medalhas de ouro em 2004 e 2008) e estabeleceu dois novos recordes mundiais no caminho.
O outro desafio é possibilitar que o direito de competir possa ser exercido independente da nacionalidade. E isso é feito de duas formas: primeiro, garantindo que todos os países estejam representados e, segundo, garantindo que qualquer bom atleta possa competir, ainda que não tenha um país pelo qual competir.
Como parte do 'espírito esportivo', o COI distribui convites para países que não conseguiram classificar nenhum atleta. A ideia é que todos os países estejam representados, ainda não tenha nenhum esportista de nível internacional. É daí que aparecem competidores que são amados pela torcida, como Hamadou Djibo Issaka, o remador do Níger apelidado carinhosamente de Isaaka, a lontra, que que nunca havia competido até o início desse ano.
Não só países reconhecidos como tal estão representados em 2012. É por isso que há 205 ‘países’ competindo nas olimpíadas, mas apenas 193 países na ONU.
Basicamente, todos os países reconhecidos pela ONU estão nas Olimpíadas 2012, exceto o Sudão do Sul, que ainda não tem comitê olímpico próprio (um dos requisitos para competir. Vamos voltar ao assunto abaixo). Somem-se aos 192, mais 12 que não são reconhecidos pela ONU, ou porque são protetorados de outros países, ou porque algum dos cinco países do Conselho de Segurança veta(ria) sua adesão à ONU (Aruba, Bermuda, Ilhas Cayman, Ilhas Cook, Ilhas Virgens Americanas, Ilhas Virgens Britânicas, Guam, Hong Kong, Palestina, Porto Rico, Taiwan e Samoa Americana).
Faltou um? Sim! isso porque o Comitê Olímpico possibilita atletas sem nacionalidade, refugiados ou cujo país ainda não tem um comitê olímpico competirem. E há seis deles nessas olimpíadas: quatro de países sem comitê (Curaçao e Sudão do Sul) e dois sem países pelos quais competirem.