“Nunca se roubou tão pouco
Não sendo petista, e sim tucano, com ficha orgulhosamente assinada por Franco Montoro, Mário Covas, José Serra e FHC, sinto-me à vontade para constatar que essa onda de prisões de executivos é um passo histórico para este país.
É ingênuo quem acha que poderia ter acontecido com qualquer presidente. Com bandalheiras vastamente maiores, nunca a Polícia Federal teria tido autonomia para prender corruptos cujos tentáculos levam ao próprio governo.
Votei pelo fim de um longo ciclo do PT, porque Dilma e o partido dela enfiaram os pés pelas mãos em termos de postura, aceite do sistema corrupto e políticas econômicas.
Mas Dilma agora lidera a todos nós, e preside o país num momento de muito orgulho e esperança. Deixemos de ser hipócritas e reconheçamos que estamos a andar à frente, e velozmente, neste quesito.
A coisa não para na Petrobras. Há dezenas de outras estatais com esqueletos parecidos no armário. É raro ganhar uma concessão ou construir uma estrada sem os tentáculos sórdidos das empresas bandidas.”
No governo federal, são 24 empresas públicas e outras 26 empresas de economia mista. Meia centena das chamdas estatais na qual o dinheiro do contribuinte foi utilizado para financiar a existência de tal empresa, certo? Na verdade, é bem mais do que isso.
Isso porque cada uma dessas estatais pode ter várias - em alguns casos dezenas (ou no caso da Petrobras, mais de uma centena) de - outras empresas vinculadas a elas. São empresas subsidiárias, controladas, coligadas e assim por diante. E essas, por sua vez, podem ter outras tantas empresas subsidiárias, coligadas etc, que por sua vez podem ter outras tantas subsidiárias, coligadas etc.
Furnas e Itaipu, para ficarmos em dois exemplos, duas das maiores empresas de eletricidade do continente, não estão diretamente vinculadas ao Ministerio da Energia. Estão vinculadas à Eletrobrás, essa sim, uma empresa de economia mista vinculada ao Ministério da Energia. O dinheiro do contribuinte foi usado para constituir essas empresas, seja diretamente através de investimentos feitos pelo governo, seja indiretamente através de lucros retidos pela empresa controladora.
Mas termina aqui o assunto?
Não. Governos muitas vezes investem em empresas privadas como acionistas minoritários. Nesses casos, o governo não controla as empresas nas quais investe, mas o dinheiro do contribuinte é usado para financiar as atividades dessas empresas que o governo não controla.
Uma outra forma comum de o dinheiro público financiar empresas que o governo não controla é através de empréstimos bancários.
BNDES, Banco do Brasil e Caixa Economica Federal, todos empresas públicas (BNDES e CEF) ou de economia mista (BB), possuem carteiras de com bilhões de reais emprestados a pessoas físicas e jurídicas de direito privado. Esses empréstimos variam de pequenos valores para ajudar na compra da casa própria ou para na lavoura do fazendeiro, à construção de estaleiros e compra ou reforma de hoteis de luxo. Esse é um dinheiro que, em teoria, precisa ser pago de volta (ao contrário do que acontece com investimentos em ações), mas que muitas vezes é feito a juros subsidiados ou sabendo-se que a possibilidade de pagamento é pequena ou provendo outras vantagens que não seriam concedidas em um empréstimo dado por instituições financeiras privadas.
Mas talvez a forma de utilização de dinheiro público em instituições privadas a que menos prestamos atenção é através de investimentos de fundos de pensão. Fundos de pensão de empresas públicas e de economia mista, que recebem contribuições de dinheiro público, muitas vezes são acionistas ou financiadores de empresas privadas e de outras empresas de economia mista. Apenas Previ (Caixa de Previdência dos Empregados do Banco do Brasil), Petros (Fundação Petrobras de Seguridade Social) e Funcef (Fundação dos Economiários Federais), por exemplo, têm investimentos acima de um R$ 260 bilhões.