“Na última reunião sob o comando de Henrique Meirelles, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) manteve os juros básicos em 10,75% ao ano. Com isso, Lula terminará o governo deixando o país com a maior taxa real (descontada a inflação) do mundo.
Esse foi o último encontro do Copom no governo Lula, mas a maioria dos membros do comitê deve permanecer no cargo na próxima gestão (...)
A manutenção dos juros deixa o país no topo do ranking das maiores taxas reais do mundo, mesma posição que o país tinha no começo do governo Lula.
Em 2003, a taxa real (descontada a inflação projetada para 12 meses) era de 11% ao ano. Caiu para 4,8%.
Para efeito de comparação, nos EUA a taxa real é hoje negativa (o juro é inferior à expectativa de inflação).
O nível alto da taxa real em relação a outros países é um dos fatores que contribuem para atrair mais dólares para o país neste momento e derrubar a cotação da moeda.
A presidente eleita, Dilma Rousseff, já manifestou o desejo de reduzir o juro real nos próximos quatro anos. As previsões para 2011, no entanto, são de alta da taxa (...)
Inflação que, segundo informou ontem o IBGE, atingiu o maior nível em quase seis anos.
No comunicado divulgado ontem, o BC diz que o cenário para a inflação é ‘menos favorável’, mas que é necessário mais tempo para avaliar o impacto das medidas já anunciadas sobre as condições de crédito e liquidez.
Na semana passada, o BC retirou R$ 61 bilhões da economia com o aumento do compulsório (dinheiro dos bancos que fica depositado no BC)”
E o que é o compulsório? Esse parece um daqueles assunto que não têm nada a ver com nossas vidas, mas têm. Compulsório, como o texto diz, é o percentual de dinheiro que fica retido/depositado no Banco Central. Essa quantidade determina a quantidade de dinheiro disponível na economia e, por conseqüência, a quantidade de dinheiro disponível para comprar e, por sua vez, a quantidade de dinheiro que as empresas têm para contratar mais funcionários para dar conta da demanda por seus produtos.
Digamos que no país não haja compulsório. Nesse caso, os bancos podem emprestar todo o dinheiro que os correntistas depositaram. Por exemplo, se você depositar R$10 na sua conta, seu banco poderá emprestar os R$10 que você deixou lá, a quem precisar. Logo,
(1) haverá mais dinheiro disponível para ser emprestado e, com isso, os juros cobrados pelos bancos será menor pois os bancos terão muito dinheiro disponível para emprestar (muita oferta de dinheiro);
(2) a inflação será maior no país porque com tanto dinheiro em circulação, vai haver maior demanda para os produtos, e como a quantidade produzida no curto prazo não varia muito, haverá pouca oferta de produtos para tanta demanda. Logo, as empresas aumentarão os preços de seus produtos. Imagine, por exemplo, o caso de uma casa que vale R$10. Antes, apenas uma pessoa (você) poderia comprá-la, mas agora duas pessoas podem comprá-la (você e quem pegou o empréstimo no banco). Se duas pessoas estão querendo a mesma casa, o dono da casa vai tomar a atitude mais óbvia: vai aumentar o preço da casa até que apenas uma única pessoa tenha dinheiro suficiente para comprá-la, ajustando a demanda (o número de pessoas dispostas a comprar a casa) à oferta (número de casas disponíveis para serem compradas);
(3) isso também aumenta o risco para o sistema financeiro, já que agora o banco ‘deve’ R$20 – os R$10 que você depositou e os R$10 que deu emprestado para quem pegou o empréstimo. Mas só há R$10 impressos em papel-moeda. Por isso, se houver uma corrida aos bancos (ou seja, se tanto você quanto a outra pessoa tentar sacar o dinheiro ao mesmo tempo), o banco não terá como pagar todo mundo. Foi mais ou menos isso que aconteceu, por exemplo, com o Banco Nacional, aquele que patrocinava o Ayrton Senna. Essa também foi uma das razões para o famoso ‘confisco da poupança’, promovido em março de 1990); 2
(4) Por fim, isso aumenta o número de empregos no longo prazo, pois uma maior quantidade de dinheiro disponível para o consumo faz com que as empresas queiram produzir mais, e para produzir mais elas precisam de contratar pessoas para operarem suas máquinas, encaixotarem os produtos etc.
Agora vamos imaginar um cenário com compulsório. Digamos que o compulsório seja de 60%. Isso quer dizer que, para cada R$10 reais que você deposita no seu banco, R$6 vão ter de ficar guardados no Banco Central, e o seu banco só poderá emprestar os outros R$4. Nesse caso, (1) a quantidade de dinheiro na economia é menor pois uma parte é enviada ao Banco Central em vez de ser emprestada pelo seu banco, logo (2) a inflação será menor já que haverá menos demanda pelos produtos e os vendedores não poderão aumentar o preço dos produtos (pois, se aumentarem, ninguém compraria), (3) o sistema financeiro fica mais segur0, mas pegar empréstimos nos bancos fica mais caro, já que os bancos têm pouco dinheiro para emprestar, o que faz com que aumentem os juros (que é o ‘preço/custo’ de se pegar um empréstimo no banco), para adequarem a oferta de dinheiro que têm à demanda por empréstimos, e (4) cai a quantidade de emprego (e os salários aumentam menos) no longo prazo, já que há menor produção, já que as pessoas têm menos dinheiro para comprar.
E por que o governo aumentou o compulsório? Como a própria matéria explica, como a economia está crescendo muito rapidamente, o governo está com medo de que a inflação aumente muito (ou seja, que o preço de produtos e serviços saia de controle). E como acabamos de ver, o aumento do compulsório é uma das formas que o governo tem de controlar a inflação.