"Os depoimentos do casal Alexandre Carlos Nardoni e Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá apresentam contradições com versões de testemunhas ouvidas pela polícia, no caso da menina Isabella, de 5 anos, morta no último sábado, segundo o Promotor de Justiça, Francisco Cembranelli.
Em entrevista coletiva concedida em São Paulo, o promotor chegou a afirmar que existem trechos "bastante fantasiosos" nos depoimentos do casal. "Não posso comentar o conteúdo, mas posso dizer que algumas versões já foram rechaçadas pelas testemunhas", disse.
O promotor disse que será necessária uma acareação entre o pai da menina, a madrasta e outras testemunhas. O promotor, entretanto, não forneceu outros detalhes sobre a acareação.
A prisão temporária de Alexandre e Anna Carolina foi feita para evitar contato com testemunhas e local de moradia e sanar pontos obscuros da investigação. "O casal solto poderia comprometer a investigação de fatos importantes", explicou.
O casal está preso preventivamente, em celas isoladas, por proteção. O isolamento foi uma precondição exigida pelos advogados do casal para que se apresentassem à polícia, atendendo ordem judicial. Anna Carolina está no 89º Distrito Polícial, no Morumbi, zona sul da capital paulista, e Alexandre, no 77º Distrito Polícial, em Santa Cecília, centro de São Paulo.
Cembranelli revelou alguns detalhes que estão sendo investigados pela polícia. Um deles é uma contradição de Alexandre, que no dia do crime afirmou que a porta de sua casa havia sido arrombada. A polícia não encontrou nenhum sinal de arrombamento. Além disso, o promotor também contou que testemunhas ouviram uma briga de casal momentos antes da morte da garota.
Acidente descartado
O Ministério Público descarta a hipótese de acidente e considera clara a existência de um crime.
Para Cembranelli, tanto a polícia quanto o Ministério Público estão sendo cautelosos e que ainda é muito cedo para atribuir a responsabilidade do crime a alguém. O trabalho de perícia está quase concluído, mas 30 testemunhas ainda serão ouvidas. "Os laudos sendo elaborados e acredito que não haverá demora na conclusão", afirmou.
Vestígios de sangue
Investigadores da polícia revelaram que vestígios de sangue foram encontrados por uma equipe do Instituto de Criminalística (IC) dentro do Ford Ka do casal Alexandre Carlos Nardoni e Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá e no apartamento no 6º andar do edifício Residencial London - de onde a menina Isabella, de 5 anos, teria sido jogada. O delegado titular do 9º DP, Calixto Calil Filho, trabalha com a hipótese de homicídio, apontando que há fortes indícios de que a criança tenha sido arremessada por alguém.
Foram encontradas marcas de sangue na maçaneta da porta da sala e no hall de entrada. Também foram coletados fios de cabelos que estavam no chão da sala e peças da roupa que Alexandre usava naquele sábado que estavam no banheiro do apartamento ao lado, que pertence à irmã dele. Ainda não se sabe de quem e de quando são as marcas de sangue, que serão agora analisadas por meio de testes de DNA.
Os políciais acreditam que essas evidências irão compor um cenário mais preciso do caso para responder às muitas questões que não foram explicadas pelos depoimentos. Os peritos também conseguiram determinar que o sangue encontrado no dia do crime no lençol do quarto em que a menina teria sido deixada dormindo caiu de alguma pessoa que estava em pé ou sendo carregada.
Os peritos procuraram por provas no apartamento das 20h30 de quarta-feira até 1 hora da madrugada de quinta-feira. Eles usaram um composto químico conhecido como luminol - em contato com sangue, ele reage e libera uma luz verde ou azulada, indicando marcas de sangue que seriam imperceptíveis a olho nu. Segundo um investigador, a polícia ainda não tem outros suspeitos do crime além do casal.
Laudo deve confirmar asfixia
O rascunho do laudo 1.081, que será feito pelo médico Laércio de Oliveira Cesar com o auxílio de dois colegas, reforça a tese que a Isabella foi asfixiada por esganadura ou sufocamento e teve um osso da mão esquerda quebrado, provavelmente por meio de uma torção. Legistas consultados pelo Jornal da Tarde disseram que os indícios de asfixia são cinco. O primeiro é uma lesão cervical importante, que pode ter sido provocada com as mãos no pescoço (esganadura) ou com a mão ou algum outro objeto cobrindo a boca e o nariz (sufocamento).
No pulmão, os exames constataram manchas de Tardieu e Paltauf - lesões provocadas pela asfixia. Havia ainda pequenas manchas vermelhas no coração (chamadas de petéquias), e as extremidades dos dedos da menina estavam arroxeadas. Por fim, a língua de Isabella estava entre os dentes. Todos esses são sinais de asfixia.
No caso do osso da mão, a lesão teria ocorrido por torção, e havia sinais de que a fratura ocorreu quando a garota estava viva. Além disso, foi encontrada pequena hemorragia no cérebro. "Isso é comum nos casos do que chamamos de síndrome de criança espancada", disse um legista.
No corpo, havia um machucado no antebraço direito, como se ele tivesse enganchado na tela de proteção da janela ou como se ela tivesse tentado se agarrar. Por fim, havia um corte na cabeça. Não havia hemorragia interna importante no tórax ou no abdome. A inexistência de fraturas na criança, apesar da queda do 6º andar, é explicada pelo local em que ela caiu (gramado do jardim do prédio) e pela flexibilidade dos ossos infantis. Para o legista, a queda provocou a parada cardíaca."
O Ministério Público é uma das partes do processo. Logo, cadê a versão da outra parte? Se estão presos, que se ouça os advogados de defesa. Em nenhum momento a outra parte foi ouvida.A matéria comprou a versão do promotor sem questionar suas intenções em nenhum momento, como se ele fosse imparcial.
O próprio promotor diz que ainda faltam mais de 30 testemunhas para serem ouvidas. Como é que a investigação policial pode estar próxima do fim? Apenas se a polícia já tiver uma versão que não será mudada seja lá o que as testemunhas digam, ainda que a favor dos investigados.
Mais: advogado não exige nada da justiça. Nem mesmo quando a vida de seus clientes está em risco. O advogado de defesa pode pedir, mas não pode exigir. Assim como o promotor. Alias, na mesma linha, o promotor não determina que haverá acareação entre as partes. A investigação policial pertence, o nome já diz, à polícia e não ao Ministério Público. E se o delegado não quiser acareação, só juiz pode obrigá-lo. Promotor e delegado estão no mesmo nível hierárquico e cuidam de coisas distintas: o delegado investiga, o promotor acusa, se houver provas.
Dica: Cuidado com autoridades publicas que gostam de aparecer. Os melhores técnicos jurídicos são aqueles que fogem dos holofotes.
Continuando: o laudo do IML sequer está pronto e a matéria foi escrita dando como certas informações que não foram formalizadas. E se o "rascunho" nem sequer era do médico legista? Não está assinado! E se era o médico legista já tiver mudado de idéia?
Reparem que a matéria afirma os detalhes das lesões sofridas como se o jornalista houvesse visto e tivesse o preparo de um médico legista para afirma quais os danos foram sofridos. Novamente: não há laudo assinado pelo IML. E ainda que houvesse, as afirmações deveriam ser atribuídas ao laudo.
Os investigados podem ser mesmo os culpados, mas quem é o jornalista (ou o promotor, ou eu ou você) para saber? Lição número para quem for escrever matéria envolvendo criança: não se deixe levar pelas emoções. Alguém se lembra da Escola Base? Pessoas tiveram suas vidas completamente destruídas porque alguns jornalistas compraram versões sem questioná-las e sem esperar pelo devido processo legal.
A título de informação, no caso da Madeleine McCann, a garota que desapareceu em Portugal, o jornal Daily Express cometeu os mesmos erros acima e no mês passado foi condenado a pagar mais de um milhão de dólares em reparações aos pais bem como pedir desculpa pública em primeira página. E, como no caso acima, os pais foram investigados.
Enfim, os pais podem ou não serem os culpados. Qualquer que seja o caso, eles têm o direito de apresentarem suas versões e o jornalista tem a obrigação de publicá-las, por mais inverossímeis que possam lhe soar.