Quase 30% dos adolescentes já enviou fotos nuas suas através do celular, segundo pesquisa conduzida pelo professor Jeff Temple, diretor do Centro de Comportamento e Saúde da Faculdade de Obstetricia da Universidade do Texas e doutor em psicologia. A prática tornou-se tão comum que ganhou nome próprio: sexting, uma combinação das palavras em inglês 'sex' e 'texting'. Segundo ele, esse é um reflexo do comportamento sexual dos adolescentes na vida real que, embora se sintam incomodados com os pedidos, continuam enviando as fotos mesmo assim.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista exclusiva ao Pensando Direito:
Sua pesquisa mostra que um em cada quatro adolescentes já enviou fotos nuas por telefone. Por que isso está acontecendo?
Parece que é parte do ritual de namoro, ou quando um dos dois quer estar em um relacionamento, mas estamos fazendo mais pesquisa para tentarmos entender as razões.
O advento da internet e smartphones faz com que essas ações impulsivas adquiram efeitos duradouros. Mas o envio de fotos nuas por celular não é um comportamento de risco novo: ele é uma extensão das atuais relações na vida real; um reflexo das intenções e comportamentos sexuais da vida real. O advento dos smartphones nos deixou vulneráveis às essas atitudes impulsivas e às indiscrições da juventude. Por exemplo, com a câmeras Polaroides, tínhamos a oportunidade de reconsiderar a nossa decisão antes de entregarmos uma foto com uma imagem nua para alguém. E mesmo que nós decidíssemos dá-la, a imagem não era capaz de ser disseminada para todos na escola, ou no mundo, em questão de segundos.
A pesquisa indica que as adolescentes se sentem incomodadas com os pedidos de envio de tais fotos, mas ainda assim elas as enviam.
Quase todas as meninas se sentem ao menos um pouco incomodadas, e metade se sente muito incomodada. Os meninos se sentem menos incomodados mas, ainda assim, mais da metade disse que se sente ao menos um pouco importunados.
É difícil saber por que enviam as fotos mesmo se sentindo importunados. Nós não sabemos o que os adolescentes querem dizer quando dizem estarem ‘incomodados'. Eles podem estar querendo dizer ‘irritados’ ou que se sentem ‘assediados’. Nossos estudos futuros tentarão descobrir o que eles entendem por ‘incomodado’.
Além disso, é possível que os adolescentes não tenham se sentido incomodados quando o pedido partiu de algumas pessoas (por exemplo, do namorado ou namorada), mas se sentiram incomodados quando o pedido partiu de outras.
Você diz que esse é um problema que também afeta adolescentes do sexo masculino.
Ambos os sexos têm as mesmas probabilidades de enviarem fotos nuas de si mesmos por celular. Mas descobrimos que os meninos são mais propensos a pedirem uma foto nua, e as meninas têm maior probabilidade de serem convidadas a enviarem fotos nuas. Além disso, as meninas geralmente se sentem mais incomodadas com o pedido.
Há grupos etários mais vulneráveis?
Os adolescentes de nossa amostra tinham idades entre 14 a 19, mas a grande maioria tinha entre 15 e 17 anos. Parece que o envio de fotos nuas via celular aumenta com a idade, mas isso pode ser apenas porque a importância de smartphones também aumenta com a idade. Outro estudo recente em uma universidade de Utah descobriu que o envio de tais fotos de fato aumenta com a idade.
Nossos resultados mostram que o envio de fotos nuas via celular é mais prevalente entre aqueles com vidas sexuais mais ativas, o que indica que o envio das fotos é apenas uma extensão de seu comportamento sexual na vida real. Como sabemos que a atividade sexual aumenta com a idade, é de se esperar que o envio de tais fotos também aumente com a idade.
Qual é o impacto que esta prática tem na vida dos adolescentes?
Além do potencial de assédio quando as fotos são divulgadas e as potenciais implicações legais, ainda não sabemos se tal prática tem impactos negativos na saúde mental ou no desenvolvimentos dos adolescentes. Embora tenhamos descoberto que o envio de fotos nuas por celular é um indicador confiável de comportamento sexual, não sabemos dizer se é causa ou consequência de tal comportamento sexual. E nós ainda não sabemos se leva um casal de adolescentes a de fato fazer sexo. Estamos fazendo um estudo com os dados que colhemos e até agora encontramos uma correlação muito tênue entre o envio de tais fotos e uma série de variáveis de saúde mental.
E essa é uma prática que continua na vida adulta?
Nossa pesquisa focou-se no comportamento de adolescentes e por isso não colheu dados sobre o que acontece na vida adulta, mas as evidências sugerem que essa é uma prática ainda mais comum entre estudantes adultos.
O que dever ser feito em termos de política pública? Quem deve assumir a responsabilidade de fazer algo?
Dada a prevalência e a correlação com o comportamento sexual, os profissionais de saúde poderiam considerar triagens usando o envio de tais fotos. Perguntas sobre o envio de fotos podem revelar se um adolescente está envolvido em outras práticas sexuais (e isso vale para meninos e meninas) ou comportamentos sexuais de risco (no caso das meninas). Como o envio dessas fotos é bastante comum entre os adolescentes, temos que conversar com o paciente sobre as possíveis consequências legais e sociais do envio de tais fotos e pedir o seu feedback. É uma oportunidade de falar sobre sexo e, especialmente, sexo seguro.
Mas, mais do que tudo, espero que nosso estudo incentive os pais a conversarem com seus filhos sobre o envio de tais fotos, sobre sexo e sobre sexo seguro. Espero que os pais perguntem aos filhos sobre o que acham do assunto, e se isso está acontecendo com seus amigos. É uma oportunidade para incentivarem os filhos a pensarem nas possíveis consequências antes de apertarem o botão de enviar. E devem também discutir como responder se alguém pedir para enviar uma foto nua. Os pais precisam falar com seus filhos sobre sexo e sexo seguro.
Você tem algum conselho para os legisladores sobre como resolver esta questão?
Dada a prevalência desse comportamento, não adianta tentar punir os adolescentes envolvidos, exceto quando tais fotos forem usadas para constranger ou chantagear.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista exclusiva ao Pensando Direito:
Sua pesquisa mostra que um em cada quatro adolescentes já enviou fotos nuas por telefone. Por que isso está acontecendo?
Parece que é parte do ritual de namoro, ou quando um dos dois quer estar em um relacionamento, mas estamos fazendo mais pesquisa para tentarmos entender as razões.
O advento da internet e smartphones faz com que essas ações impulsivas adquiram efeitos duradouros. Mas o envio de fotos nuas por celular não é um comportamento de risco novo: ele é uma extensão das atuais relações na vida real; um reflexo das intenções e comportamentos sexuais da vida real. O advento dos smartphones nos deixou vulneráveis às essas atitudes impulsivas e às indiscrições da juventude. Por exemplo, com a câmeras Polaroides, tínhamos a oportunidade de reconsiderar a nossa decisão antes de entregarmos uma foto com uma imagem nua para alguém. E mesmo que nós decidíssemos dá-la, a imagem não era capaz de ser disseminada para todos na escola, ou no mundo, em questão de segundos.
A pesquisa indica que as adolescentes se sentem incomodadas com os pedidos de envio de tais fotos, mas ainda assim elas as enviam.
Quase todas as meninas se sentem ao menos um pouco incomodadas, e metade se sente muito incomodada. Os meninos se sentem menos incomodados mas, ainda assim, mais da metade disse que se sente ao menos um pouco importunados.
É difícil saber por que enviam as fotos mesmo se sentindo importunados. Nós não sabemos o que os adolescentes querem dizer quando dizem estarem ‘incomodados'. Eles podem estar querendo dizer ‘irritados’ ou que se sentem ‘assediados’. Nossos estudos futuros tentarão descobrir o que eles entendem por ‘incomodado’.
Além disso, é possível que os adolescentes não tenham se sentido incomodados quando o pedido partiu de algumas pessoas (por exemplo, do namorado ou namorada), mas se sentiram incomodados quando o pedido partiu de outras.
Você diz que esse é um problema que também afeta adolescentes do sexo masculino.
Ambos os sexos têm as mesmas probabilidades de enviarem fotos nuas de si mesmos por celular. Mas descobrimos que os meninos são mais propensos a pedirem uma foto nua, e as meninas têm maior probabilidade de serem convidadas a enviarem fotos nuas. Além disso, as meninas geralmente se sentem mais incomodadas com o pedido.
Há grupos etários mais vulneráveis?
Os adolescentes de nossa amostra tinham idades entre 14 a 19, mas a grande maioria tinha entre 15 e 17 anos. Parece que o envio de fotos nuas via celular aumenta com a idade, mas isso pode ser apenas porque a importância de smartphones também aumenta com a idade. Outro estudo recente em uma universidade de Utah descobriu que o envio de tais fotos de fato aumenta com a idade.
Nossos resultados mostram que o envio de fotos nuas via celular é mais prevalente entre aqueles com vidas sexuais mais ativas, o que indica que o envio das fotos é apenas uma extensão de seu comportamento sexual na vida real. Como sabemos que a atividade sexual aumenta com a idade, é de se esperar que o envio de tais fotos também aumente com a idade.
Qual é o impacto que esta prática tem na vida dos adolescentes?
Além do potencial de assédio quando as fotos são divulgadas e as potenciais implicações legais, ainda não sabemos se tal prática tem impactos negativos na saúde mental ou no desenvolvimentos dos adolescentes. Embora tenhamos descoberto que o envio de fotos nuas por celular é um indicador confiável de comportamento sexual, não sabemos dizer se é causa ou consequência de tal comportamento sexual. E nós ainda não sabemos se leva um casal de adolescentes a de fato fazer sexo. Estamos fazendo um estudo com os dados que colhemos e até agora encontramos uma correlação muito tênue entre o envio de tais fotos e uma série de variáveis de saúde mental.
E essa é uma prática que continua na vida adulta?
Nossa pesquisa focou-se no comportamento de adolescentes e por isso não colheu dados sobre o que acontece na vida adulta, mas as evidências sugerem que essa é uma prática ainda mais comum entre estudantes adultos.
O que dever ser feito em termos de política pública? Quem deve assumir a responsabilidade de fazer algo?
Dada a prevalência e a correlação com o comportamento sexual, os profissionais de saúde poderiam considerar triagens usando o envio de tais fotos. Perguntas sobre o envio de fotos podem revelar se um adolescente está envolvido em outras práticas sexuais (e isso vale para meninos e meninas) ou comportamentos sexuais de risco (no caso das meninas). Como o envio dessas fotos é bastante comum entre os adolescentes, temos que conversar com o paciente sobre as possíveis consequências legais e sociais do envio de tais fotos e pedir o seu feedback. É uma oportunidade de falar sobre sexo e, especialmente, sexo seguro.
Mas, mais do que tudo, espero que nosso estudo incentive os pais a conversarem com seus filhos sobre o envio de tais fotos, sobre sexo e sobre sexo seguro. Espero que os pais perguntem aos filhos sobre o que acham do assunto, e se isso está acontecendo com seus amigos. É uma oportunidade para incentivarem os filhos a pensarem nas possíveis consequências antes de apertarem o botão de enviar. E devem também discutir como responder se alguém pedir para enviar uma foto nua. Os pais precisam falar com seus filhos sobre sexo e sexo seguro.
Você tem algum conselho para os legisladores sobre como resolver esta questão?
Dada a prevalência desse comportamento, não adianta tentar punir os adolescentes envolvidos, exceto quando tais fotos forem usadas para constranger ou chantagear.