“PM faz ronda especial para vigiar bancos particulares
A Polícia Militar criou um serviço especial para fazer a segurança dos bancos privados no Estado de São Paulo.
A chamada ‘ronda bancária’ é uma operação policial na qual dois PMs são obrigados a patrulhar diariamente sete agências bancárias.
Mesmo os bancos sendo instituições privadas, a dupla de PMs é obrigada a pegar uma assinatura e um carimbo do gerente de cada agência visitada para poder comprovar aos seus chefes na polícia que fizeram a ronda.
Segundo [um PM], há casos em que os PMs ficam quase uma hora esperando os gerentes de determinadas agências bancárias para assinarem e carimbarem a planilha que comprava que eles fizeram a ronda naquele local.
A Folha mostrou em fevereiro que os bancos iniciaram um processo de retirada das portas com detectores de metal - motivado pela queda no número de roubos e por processos por causa do travamento do equipamento.”
A premissa para que os policiais tenham que colher assinatura dos gerentes para provar que fizeram sua ronda é que eles, como seres racionais (e preguiçosos), eles querem trabalhar o mínimo possível. E é isso que quer a maior parte dos seres humanos racionais. Todos queremos usar a menor quantidade de recursos possíveis (dinheiro, tempo, esforço físico, intelectual etc) para conseguir o resultado almejado (um salário, satisfação no emprego, um cônjuge atraente, filhos felizes etc).
Se essa lógica é verdadeira, esses policiais vão elaborar uma rota que cubra o número mínimo de bancos necessários no menor tempo possível.
Se você é um bandido, seu primeiro passo é descobrir que rota é essa e usa-la a seu favor. Por exemplo, atacar um banco quando os policiais estiverem no ponto mais distante dele.
A ideia por trás da segurança é que o bandido não pode ter melhor informação do que o policial. E uma rota ajuda a transferir informação da polícia para o bandido. Em outras palavras, isso diminui em vez de aumentar a segurança.
Há outras soluções?
O primeiro impulso é defender o policiamento de forma randômica. Uma outra palavra para aleatório. Assim, o bandido nunca vai saber onde e quando o policial vai estar por perto, aumentando seu risco. Se o risco aumenta, o benefício diminui. Ótima ideia, certo?
Não. Imagine a fila para o detector de metais em uma aeroporto. Se você seleciona aleatoriamente quem irá ser revistado, a chance de uma senhora de 90 anos ou de uma criança de seis meses serem revistadas é a mesma de um homem adulto, ainda que aquelas provavelmente sejam bem menos perigosas do que este.
Policiamento aleatório é ineficaz: usa recursos onde eles são desnecessários.
Policiamento aleatório também significa que as chances do policial ir ao banco são sempre menores do que a de ele não ir. E é isso o que a polícia está tentando evitar na matéria acima.
Há alguma outra solução?
Claro: deixar nas mãos do policial decidir o que fazer. Afinal, ele é o especialista em segurança, certo?
Bem, em teoria, sim. Ele está na rua e, em teoria, é bem preparado para isso. Mas o problema é que era justamente isso que acontecia e alguns policiais, como seres racionais na busca de eficiência (conseguir o máximo com o menor esforço possível), deixavam os bancos e outras instituições sem policiamento.
Pior: se ele é mal preparado, a ineficiência aumenta. Imagine o detector de metal novamente: um policial que só revista homens que parecem muçulmanos porque ele acha que os terroristas são mulçumanos, ele vai deixar de parar qualquer terrorista vestido como piloto.
O problema com todas essas soluções é o mesmo: ele está tentando usar um sistema para resolver um problema que é social. A única solução de verdade é resolver o problema na sua raiz: recrutar e treinar profissionais que de fato tenham a capacidade de se policiarem e cumprirem o seu dever de proteger a sociedade.
Mas há um problema a ser resolvido antes que isso aconteça: quem quer ser policial mal pago ou criticado pela sociedade ou com carreiras ditadas por vontades políticas? Se você é bem preparado, racional e tem a opção entre tornar-se juiz ou policial, e as vantagens apontam na direção daquele... Um exemplo interessante: na Coreia do Sul os professores ganham duas vezes mais do que o PIB per capita e isso acaba atraindo professores muito melhores e isso é refletido na qualidade de educação dos alunos.
Mas, por outro lado, a sociedade não quer financiar uma instituição em que não confia.