Dois dados assustam nessa pesquisa: primeiro, ao contrário das outras grandes catástrofes relacionadas no relatório, as brasileiras são recorrentes. Sabemos não só que haverá chuvas fortes, mas também quando elas acontecerão. Terremotos chegam com aviso prévio de horas. As chuvas de verão brasileiras são conhecidas, bem como as áreas de risco. Mas, ainda assim, somos pegos de ‘surpresa’.
O segundo dado que surpreende é como a indústria de seguro no Brasil é praticamente inexistente. No terremoto da Nova Zelândia, as seguradoras desembolsaram algo como US$66 milhões para cada pessoa morta. Nos tornados nos EUA, as seguradoras desembolsaram algo US$20 milhões para cada pessoa morta. No Brasil? US$55 mil.
Esses valores não são indenizações pelas morte, mas tragédias que causam maior número de mortes também causam maior número de danos materiais, e ambos – em teoria - aumentam os valores pagos pelas seguradoras.
E aqui entra um detalhe importante: a indústria de seguros é relevante como mecanismo de pressão junto ao governo, empresas e indivíduos pela melhoria dos padrões de segurança. Como é ela quem assume o risco, ela tem o incentivo para pressionar por mais segurança. Mas se os valores desembolsados por ela são baixos, como no Brasil, o incentivo para pressionar por melhorias é bem menor.
Pense nesse exemplo: quando surgiram as fraudes com cartões de débito na Inglaterra, os tribunais colocavam o risco nos correntistas: se seu cartão fosse clonado, você arcava com o prejuízo. Quem realmente poderia resolver o problema de segurança – os bancos – não perdiam nada com a clonagem. O resultado é que mais e mais cartões eram clonados todos os dias. Até que os tribunais ingleses passaram a alocar as perdas nos bancos. Em menos de um ano os cartões no país passaram a ser tão ou mais seguros que os cartões de qualquer outro lugar.
‘Ah, mas os valores dos bens são menores no Brasil. É por isso que os valores são menores. As propriedades no Brasil valem menos’. Na verdade, não. Pelo contrário. Os cálculos são de 2011, quando o câmbio brasileiro estava sobrevalorizado.
Mas existe, sim, um segundo motivo para os valores pagos pelas seguradoras serem tão menores no Brasil. Em países desenvolvidos, tragédias são mais democráticas: tendem a atingir todos mais ou menos de forma igual. Já no Brasil, atingem muito mais os pobres e miseráveis, que têm menos bens e não têm seguros.