Com um PIB estimado de US$28 bilhões, sua economia é menor que países como Etiópia e Gana, ou mesmo do Mato Grosso. Em termos de comparação, a Coreia do Sul tem um PIB 36 vezes maior: acima de US$1 trilhão. Cercada de gigantes econômicos como Japão, China, Coreia do Sul e Rússia, o país é um dos mais pobres do mundo, com um PIB per capita de US$1,2 mil (novamente, a título de comparação, o PIB da Coreia do Sul é 17 vezes maior: US$20,7 mil).
Ou seja, a Coreia do Norte não interessa, certo?
Errado. Se ela não tem importância econômica, ela tem enorme importância militar. E não só por conta de estar rodeada de potências econômicas: a Coreia do Norte possui bomba atômica e mísseis de médio alcance. E para tornar a situação ainda mais complicada, sua fronteira sul está a meros trinta quilômetros de Seoul, capital da Coreia do Sul e onde mais de um quinto dos 48,9 milhões de sul-coreanos moram. A título de comparação, essa distância é a mesma do aeroporto de Guarulhos até o centro de São Paulo. Um soldado norte coreano estacionado na fronteira ao sul de seu país está cinco vezes mais próximo da capital da Coreia do Sul do que da sua própria capital. Se a Coreia do Norte quiser realmente fazer um estrago nuclear na principal cidade da Coreia do Sul, ela sequer precisa invadir o território inimigo: basta lançar suas bombas ou fazer testes nucleares no sul de seu próprio território. O efeito na população vizinha será sentido mais do que por sua própria população.
A fronteira nordeste do país está a meros quinhentos quilômetros de Honshu, a principal ilha do arquipélago japonês, e onde Tóquio está situada. E Beijing, a capital chinesa, está a menos de setecentos quilômetros de distância da fronteira noroeste.
Se isso não bastasse, a Coreia do Norte ainda conta com o quarto exército estimado em 1,1 milhão de soldados na ativa, atrás apenas da China (2,3 milhões de soldados na ativa), EUA (1,5 milhão) e Índia (1,3 milhão). Isso para um país com 24 milhões de habitantes.
Ninguém sabe exatamente o quanto a Coreia do Norte gasta com suas forças armadas, mas estima-se que seja o país que mais gasta em proporção ao seu PIB.
Se tudo isso não bastasse, a guerra com a vizinha do sul ainda não terminou. A guerra, que começou em 1950, tecnicamente, está em um estado de armistício desde 1953, quando os dois países foram separados. Armistício, vale lembrar, é quando os países continuam em guerra declarada mas suspendem as agressões na esperança de conseguirem chegar a um acordo, ou ao menos de não se autodestruírem.
Não bastasse tudo isso, a Coreia do Norte é o regime menos democrático do mundo. Segundo o ranking anual da revista The Economist, a Coreia do Norte consegue ser 29% mais ditatorial do que o Chade, a segunda pior ditadura do planeta. Ninguém sabe exatamente o que se passa no país.
E aí entra o quarto ponto crucial: além de ser um dos países mais pobres do mundo, armado até os dentes e em uma localização estratégica, a total ausência de democracia faz com que qualquer negociação se torne, no mínimo, confusa. Ao contrário do que ocorre com as democracias, que se tornam mais estáveis com maior transparência/abertura, a única forma de ditaduras se manterem estáveis é se fechando: quanto mais fechadas, mais estáveis. Ditaduras fechadas, 'pero no mucho', acabam desmoronando. Mas, quanto mais fechadas, mais difícil é estabelecer e manter qualquer diálogo interno ou externo. Pior: mudanças bruscas - como a morte de um líder ou uma catástrofe natural - torna o cenário instável porque ninguém (dentro ou fora do país) sabe exatamente quais são as regras a serem seguidas.