Abaixo, os principais pontos da entrevista exclusiva ao Pensando Direito:
Você afirma que os países em desenvolvimento não experimentam nenhum benefício econômico do tráfico internacional de entorpecentes. Por que?
As pessoas acreditam que a economia colombiana depende de dinheiro da droga, que o tráfico de cocaína é uma parte substancial da economia. Mas os dados mostram o contrário. Hoje, o ciclo completo da indústria de cocaína (a agricultura coca, o processamento, o negócio de exportação, e assim por diante) equivale a menos de 2,5% do PIB, e nunca esteve acima de 5%.
A Colômbia, como o Brasil, é um país tanto de produção quanto de passagem da droga. Nossos dados para a Colômbia mostram que a importância econômica do cultivo de coca e a produção de cocaína é relativamente baixa. O valor adicionado destas atividades é cerca de US$ 3 bilhões. E o tráfico de cocaína na Colômbia tem um valor adicionado de US$ 8 bilhões.
Embora [ainda que represente pouco economicamente] o negócio da cocaína transformou a Colômbia no país mais violento do mundo, corrompeu o sistema político, alimentou o conflito armado, e abalou a sociedade de várias maneiras diferentes e profundas. Mas a sua importância econômica [para o país] é modesta. Isso é trágico e paradoxal.
Qual é o papel desempenhado pelas instituições financeiras locais no narcotráfico internacional?
Elas desempenham um papel coadjuvante. Em alguns casos, elas fecham os olhos. Em outros, facilitam o negócio de forma inadvertida. Mas as instituições financeiras dos países desenvolvidos se beneficiam muito mais.
Mesmo quando as instituições financeiras de países de passagem, como Brasil e Colômbia, se beneficiam marginalmente de tráfico de drogas, elas pagam um preço incrivelmente desproporcional, porque são elas que sustentam quase todo o peso regulatório. Existe uma assimetria. Bancos no mundo industrializado se beneficiam muito mais, mas são os bancos nos países produtores e de passagem que sustentam o custo da tentativa de controlar a lavagem de dinheiro.
Instituições financeiras dos países desenvolvidos se beneficiam mais porque muito mais dinheiro é gerado pelo varejo da droga [venda para os usuários nos países desenvolvidos] do que na produção e no transporte. No entanto, o governo americano pressiona os governos dos países produtores e de passagem para implementarem regulamentações e combaterem a lavagem de dinheiro de uma forma muito mais rigorosa do que o fazem contra instituições americanas nos EUA. Esta assimetria precisa ser corrigida.
O que pode ser feito para frear o narcotráfico?
Nossa pesquisa põe em dúvida o impacto da regulamentação pesada que foi posta em prática para coibir a lavagem de dinheiro. O dinheiro da droga sempre encontra uma maneira de entrar no sistema, independentemente dos controles e da enorme burocracia. A guerra contra a lavagem do dinheiro do narcotráfico é muito parecida com a guerra contra as drogas em si: ambas foram perdidas.
Países como o Brasil consomem grande quantidade de drogas e, ao mesmo tempo, funcionam como porta de exportação. Isso significa que as políticas públicas têm de lutar em duas frentes ao mesmo tempo: oferta e demanda. Você defende alguma prioridade?
Defendemos duas prioridades: tratar o consumo de drogas como um problema de saúde pública; e focar na redução da violência, e não em redução do tráfico .
Até muito recentemente, na Colômbia festejava-se o aumento do preço da cocaína nas ruas de Los Angeles e Nova York.
Isso não é mais o caso. Agora as autoridades latino-americanos estão dispostos a dizer às claras que os objetivos dos EUA são bastante diferentes dos objetivos dos países produtores da droga: as autoridades americanas querem reduzir a oferta de drogas que entram em seu país, e por isso que eles celebram os aumentos de preços. Mas as autoridades colombianas, por outro lado, querem reduzir a violência e outras consequências adversas do tráfico de narcóticos. As duas coisas nem sempre andam de mãos dadas. Um aumento no preço não é necessariamente uma boa notícia para a Colômbia.
Na prática, nem sempre é fácil combater a violência sem combater o tráfico. Mas existem alternativas. Uma, por exemplo, foi recentemente proposta por Mark Kleiman para o México. E a experiência de Boston, onde os traficantes não são incomodados se não geram violência, também precisa ser analisada. Já outras alternativas são complementares, como a legalização do uso da maconha, por exemplo.