A pesquisa, feita com 443 participantes, era simples: os consumidores poderiam comprar bilhetes de cinema dando mais ou menos informações pessoais à empresa que os vendia. Os resultados impressionam:
Em igualdade de condições – ou seja, quando os bilhetes eram vendidos pelo mesmo valor – entre 62% e 83% dos consumidores preferiram comprar bilhetes sem dar informações pessoais, ou seja, preferiram proteger sua privacidade.
Mas quando as empresas que pediam informações pessoais cobravam um preço mais baixo pelo bilhete, apenas 29% dos consumidores continuaram a preferir as empresas que não pediam as informações pessoais. Quando tudo o que as empresas pediam era um email para enviar marketing (em troca de cobrarem um preço de bilhete mais baixo), o percentual caiu ainda mais: meros 9% preferiam pagar mais para proteger sua privacidade.
Esse números impressionam, especialmente porque, perguntados, nada menos do que 93% dos participantes disseram que achavam importante as empresas protegerem suas informações pessoais.
Podemos tirar três conclusões desses resultados:
Primeiro, que embora estejamos preocupados com nossa privacidade, abdicamos dela tão logo haja um incentivo financeiro para tal. Nossa dita preocupação com a privacidade é muito mais teórica do que prática. Não surpreende que programas de TV onde as pessoas expõem sua privacidade em busca de um prêmio consigam milhares de participantes.
Segundo, que empresas que resguardam as informações dos clientes, em igualdade de preços, têm uma enorme vantagem competitiva, mas tão logo elas cobram por essa privacidade, sua vantagem competitiva desaparece.
Por fim, agimos como se nossa privacidade não tivesse valor econômico. No experimento acima, as pessoas expuseram seus dados pessoais por um desconto de meros €0,50 no preço do bilhete de cinema (isso mesmo: por cinquenta centavos de Euro: pouco mais de R$1). Para um (pequeno) benefício econômico imediato, estamos dispostos a abdicar de nossa privacidade de forma permanente.
O problema é que nossa percepção não condiz com a realidade: nossa privacidade não só tem valor financeiro para a empresa que detêm informação a nosso respeito (pense em algumas das empresas mais valorizadas do planeta, como Facebook e Google, cujos modelos econômicos são baseados nas nossas informações pessoais que coletam), mas também no mercado negro. Informações pessoais, como CPF, RG, endereço etc, têm valor para criminosos.
Quando decidimos dividir nossas informações com uma empresa, estamos presumindo não apenas que essa empresa não irá usa-la contra nós, mas também que ela será capaz de protege-las contra tentativas de criminosos de obtê-las. Mas nos esquecemos que, para um criminoso, é muito mais eficiente invadir um único banco de dados de uma empresa com milhares de informações de todos nós, do que coletar informações de milhares de indivíduos, uma a uma.