Talvez seja o melhor e mais completo guia para leigos sobre como se proteger na internet. E de graça. Um único detalhe: é em inglês. Publicado pelo Rough Guide (sim, o mesmo dos guias de turismo) em parceria com a Association of Chief Police Officers (ACPO) e a Trading Standards britânicas, ele é fácil de pesquisar, entender e utilizar. E, o mais importante, o conteúdo é bom. Download aqui. Pesquisa interessante feita com os membros do parlamento europeu pelos professores Raymond Fisman (Columbia University), Nikolaj Harmon (Universidade de Princeton), Emir Kamenica (Universidade de Chicago) e Inger Munk (Dong Energy). O trabalho, desenvolvido com base em dados reais, mostrou que dobrando o salário dos parlamentares europeus, o número de candidatos tentando a reeleição aumentou em 23%, e esse aumento não diminuiu o percentual de faltas às sessões. Além disso, o comparecimento e participação nas votações está vinculado ao grau de corrupção do país de origem. Até aí, nada muito diferente do que se esperaria: há pessoas muito interessadas em um bom salário, e as pessoas que não estão nem aí para seu emprego não vão se tornar mais éticas só porque o salário aumentou. Mas o mais interessante vem a seguir: com o aumento salarial, a qualidade dos parlamentares eleitos caiu, quando analisado a partir do ranking das universidades onde estudaram. Para ser mais preciso, dobrando o salário diminui a probabilidade de o político ter estudado em uma das 500 melhores universidades do mundo em 4,2%. É por isso, por exemplo, que New Hampshire, nos EUA, mantém o salário dos legisladores baixo: US$100: apenas quem está realmente comprometido com a causa pública se candidata. Pode parecer que não faz sentido, afinal, na iniciativa privada, uma empresa paga mais para as pessoas mais qualificadas. Mas vamos pensar direito: na iniciativa privada, o salario é ditado pela qualidade do empregado. Se uma empresa quer recrutar alguém mais gabaritado, deve pagar mais. Se pagar menos, perderá seus melhores funcionários. Mas – e aí que está o xis da questão – na iniciativa privada as empresas têm como auferir a qualidade e produtividade de seus empregados. Já em uma eleição, essa medição torna-se não só mais subjetiva, mas também mais diluída. Cada eleitor tem uma forma diferente de julgar cada candidato. O candidato acaba sendo eleito não por sua qualidade técnica, mas pela capacidade de atrair o maior número de eleitores com parâmetros – subjetivos – parecidos: a média da sociedade. Quando se aumenta o salário do parlamentar, atrai-se uma gama muito maior de pessoas. Com o salário menor apenas as pessoas realmente comprometidas com a causa pública se dispõem a se candidatar. Além disso, as pessoas qualificadas que se candidatam para trabalhar recebendo pouco são aquelas que já ganharam dinheiro por conta própria ou herdaram suas fortunas: justamente as que provavelmente estudaram em melhores faculdades. Por outro lado, com um salario alto, pessoas menos comprometidas acabam sendo atraídas pela possibilidade de se elegerem. Mas a maioria dos eleitores não está capacitada a descobrir se um parlamentar está se candidatando pelas razões corretas ou não. Eles, como acabamos de ver, elegem baseados em fatores subjetivos. Quanto menor o grupo de candidatos, maior a possibilidade desses candidatos serem diferentes da média; e quanto maior o grupo de candidatos, mais a média geral dos eleitos será parecida com a média geral da sociedade. É uma questão estatística. Pense em moedas, por exemplo: se você jogar uma moeda mil vezes, é muito provável que 50% das vezes será cara e 50% das vezes será coroa. Se você jogar a moeda apenas duas vezes, a chance de que ambas sejam só cara ou só coroa aumenta é muito maior. Se há milhares de candidatos, eles serão ‘a cara da sociedade’. Se os eleitores não estão preparados para analisa-los tecnicamente, é essa cara que será eleita. Um grupo grande de candidatos refletirá a média da sociedade. Um grupo pequeno tem maior possibilidade de ser diferente do resto da sociedade. Mas por que o grupo pequeno é melhor do que o resto da sociedade? Ser diferente da média não significa estar acima da média. Bem, a hipótese mais lógica é que as pessoas mais tecnicamente qualificadas são aquelas que estudaram em melhores escolas e por isso ganharam mais dinheiro e podem, agora, se dedicar a ajudar o resto da sociedade sem se preocupar com salario. O crack é uma droga relativamente nova (foi ‘inventada’ em meados da década de 1980). Pior: é uma droga barata porque a cocaína (que é cara e proibida) é misturada com outras substâncias baratas e de fácil obtenção, como o bicabornato de sódio (o mesmo que você usa para fazer bolos e biscoitos). Segundo os médicos, o crack estimula a liberação de dopamina (um estimulante presente em nosso corpo) e impede sua reabsorção, mantendo-a em circulação por mais tempo do que o normal - o que gera uma sensação de euforia em menos de 10 segundos, e essa sensação dura cerca de 10 minutos. Se você quer saber como o drogado se sente durante aqueles 10 minutos, pense na sensação inicial de surpresa que você sentiu ao receber um presente inesperado, ao ganhar um primeiro beijo de uma pessoa amada ou ganhar alguma competição esportiva ou na loteria. Aquela sensação de euforia foi causada pela dopamina em seu corpo. Para o usuário de crack, essa é uma sensação que dura não alguns instantes, mas alguns minutos. Terminado o efeito, o cérebro contrabalança o desequilíbrio causado pela droga, e o usuário sente uma depressão e cansaço profundos, o que o faz ‘necessitar’ usar a droga novamente. Ou seja, em vez de manter-se no meio termo, ele oscila entre extremos de euforia e depressão. Quanto mais ele usa, mais deprimido; e quanto mais deprimido, mais ele usa. Por outro lado, se ele conseguir usar a droga novamente antes do fim de seu efeito, ele se manterá em um estado contínuo de euforia. Mas o cérebro não está preparado para lidar com o efeito de uma liberação prolongada de dopamina (é por isso que a sensação de euforia após ganhar um presente surpresa dura tão pouco), e a cada nova ingestão da droga, mais curto é o efeito. Para manter o mesmo nível de euforia, o usuário necessita aumentar a intensidade do consumo. E, para complicar, enquanto ele estiver eufórico, ele não irá dormir. Se você já tentou ficar mais de um dia sem dormir saberá como isso altera seu estado mental e sua capacidade de raciocínio. Associe isso à paranoia causada pela droga, e tem-se um estado perigoso de alteração psíquica. A consequência disso tudo é que o crack torna o usuário altamente dependente e a recuperação muito difícil (mas não impossível), não só por causa da dependência física que ele causa (a ‘necessidade’ de sair da depressão ou manter-se eufórico), mas também psicológica (quem não gostaria de viver a vida sentindo a sensação do primeiro beijo de uma pessoa amada?). Essa dependência profunda torna o trabalho da polícia, profissionais de saúde e dos serviços sociais ainda mais difícil. Primeiro, porque o dependente ‘necessita’ da droga ou algum outro substituto para sair da depressão gerada pelo uso. Simplesmente impedir o uso em determinado local não vai terminar com a dependência. Apenas move o problema de um local para o outro. Segundo, porque o grau de dependência causado pela droga, e a consequente depressão, são tais que o usuário deixa de ter um processo cognitivo eficiente. Em outras palavras, ele deixa de ‘pensar direito’ (é por isso, por exemplo, que é comum roubarem e furtarem em locais que serão evidentemente presos, ou deixarem-se fotografar pelos jornais com tanta facilidade). O usuário não consegue perceber-se. A cracolândia existe porque ela torna o processo de obtenção de drogas ‘eficiente’: o drogado não precisa ir atrás da droga. Se ele permanece no mesmo local, o traficante o achará com facilidade. Traficantes têm pontos de vendas. Se seus usuários não estiverem mais na cracolândia, estarão comprando e usando drogas em outro local. Ou os traficantes simplesmente mudarão de endereço para fornecer aos usuários em outro local, ou esses usuários estarão comprando de outros traficantes. Como traficante não gosta de sair no prejuízo, isso gerará um conflito para o controle de novos pontos. É por isso que alguns especialistas defendem uma solução abrangente: simplesmente impedir o acesso a um local não basta. É preciso eliminar a demanda (submeter os usuários a tratamento) e a oferta (evitar que os traficantes se reinstalem e evitar que novos usuários tenham acesso a drogas). E esse último ponto, embora lugar comum, é importante de ser entendido. Uma vez que as pessoas tenham acesso a drogas em geral e às derivadas da cocaína em especial, a recuperação é muito difícil e depende de três fatores: a eliminação do acesso ao traficante (parte do que a PM está tentando fazer na Cracolândia), a disponibilidade de meios de tratamento e a vontade do usuário. O período de recuperação é longo e quase sempre envolve internação e desintoxicação, além do acompanhamento psicológico. E isso tem um grande custo financeiro e emocional. A consequência é que uma boa parte dos usuários (estudos diferentes têm resultados muito diferentes*) jamais consegue se recuperar. Isso não quer dizer que nada deva ser feito, mas que a melhor forma de gerar um resultado positivo para os usuários atuais é atacando o problema de todos os lados. Aliás, uma da razões pela qual algumas cidades e países conseguiram diminuir o número de usuários é trágica, mas compreensível, e está menos relacionada à recuperação dos usuários e mais relacionada à entrada de novos usuários. Como os usuários têm uma expectativa de vida muito menor que o resto da população (não só pelos problemas físicos causados pelas drogas, como pelos riscos de overdose e pela violência do mundo no qual vivem), eles foram morrendo. Como as políticas públicas conseguiram evitar que um número igual de novos usuários tivessem um primeiro contato com a droga, os números absolutos caíram. E aí entram três problemas ainda mais controversos em nossa sociedade: como reintegrar a criança de rua à sociedade, já que ela está muito mais exposta ao universo da droga; como lidar com a gravidez indesejada e como lidar com a adoção/guarda da criança (já que muitos dos novos consumidores nascem e crescem com pais envolvidos com drogas). * O problema de avaliar se um tratamento funciona é mais complexo do que parece: depende se devemos tratar o tratamento que é voluntário e o que é imposto como pena pela Justiça de uma mesma maneira; de quanto tempo de abstinência é necessário para se considerar como ‘problema resolvido’; exatamente o que é considerado um ‘problema resolvido’; se alguém que deixa de usar uma droga e passa a usar outra pode ser considerado ‘problema resolvido’; como ter certeza que a pessoa não está mais usando a droga; se um paciente que recai no uso e volta a se tratar novamente pode ser considerado um único caso etc. Notícia interessante no Daily Yomiuri, o principal jornal em língua inglesa do Japão. Segundo o artigo, o governo japonês está desenvolvendo um vírus capaz não só de contra-atacar computadores que tentem atacar seus sistemas, mas também de identificar e contra-atacar a ulterior fonte de tais ataques. A ideia é interessante, e outros governos devem estar desenvolvendo ou já terem desenvolvidos programas na mesma linha. Assim como o ar na Primeira Guerra Mundial e o espaço durante os anos 70-80, a internet está se tornando um quinto palco de guerra e isso é e deve ser uma preocupação para os governos. Mas há três riscos enormes associados ao tal vírus: Primeiro, o risco estratégico: ninguém sabe exatamente onde estão as linhas geográficos na internet. Se um tanque de guerra do Suriname cruzar a fronteira brasileira, o governo saberá que está sendo atacado porque as linhas de fronteira geopolíticas estão claramente definidas. Na internet isso não existe. Óbvio que o governo japonês sabe quais são seus computadores e, pode até saber quais são os computadores do governo inimigo, mas esses são os extremos. Os computadores do governo japonês são o equivalente ao Palácio do Planalto no mundo real. Mas até o tanque do Suriname chegar ao Planalto, ele terá passado por milhares de quilômetros de território nacional que não pertencem ao governo, mas a milhões de pessoas na iniciativa privada. Ou o governo japonês terá de disponibilizar esse vírus aos japoneses e aceitar o enorme risco de deixar a cargo deles decidir quando e contra quem usar tal vírus (o que é improvável, já que seria a mesma coisa de dar um canhão para cada brasileiro para combater a eventual possibilidade de serem atacados por um tanque estrangeiro, e esperar que eles não usem tal canhão para mais nada), ou só usará quando seus computadores estiverem sendo atacados, o que é equivalente a somente contra-atacar quando o tanque estrangeiro já houver começado a atirar dentro do Planalto, o que pode ser muito tarde, já que os ataques inimigos se darão contra sistemas financeiros, de saneamento, de controle de usinas de energia, de controle de transporte etc, e quase todos eles residem nas mãos da iniciativa privada. Segundo, o risco operacional: o vírus pode ser usado contra inimigos, mas como para-lo e impedi-lo de ser usado contra outros que não o inimigo? E como ter certeza de que ele apenas será usado em casos de ataque direto e não será apropriado pelo inimigo para causar danos ainda maiores contra o próprio governo japonês? Vírus são programas, programas são linhas de códigos desenvolvidos por seres humanos. Seres humanos são factíveis de erros. Quem nunca experimentou um problema com algum software que atire a primeira pedra. Óbvio que ninguém ainda sabe onde estarão as vulnerabilidades desse vírus, mas elas existirão e poderão ser usadas em uma contraofensiva do inimigo ou por um terceiro governo ou parte. Por fim, há o risco democrático: o vírus foi desenvolvido para atacar máquinas inimigas, mas o que é um inimigo? Na internet, o inimigo não está operando necessariamente além das fronteiras nacionais. O inimigo pode estar dentro de seu território. Isso legitimaria o uso de tal vírus contra máquina locais? E o que é um inimigo legítimo? Na Síria e na Líbia, os governos viram movimentos civis como inimigos. Um vírus como esse pode, em última instância, acabar sendo usado para paralisar movimentos democráticos. Hacking, ou invasão de um sistema, não é novidade. Tão logo alguém inventou um cadeado na Assíria, alguém passou a tentar abri-lo sem autorização, fosse pela possibilidade de algum ganho, fosse pela curiosidade técnica, fosse porque não tinha mais nada para fazer. A invasão de sistemas eletroeletrônicos parece algo novo porque a tecnologia é nova, mas esse artigo da revista NewScientist relata um caso em 1903. Segundo o artigo, quando John Fleming foi apresentar o telégrafo sem fio (desenvolvido por seu chefe Guglielmo Marconi) publicamente à Royal Institution, em Londres, a máquina começou a emitir sinais sonoros em Código Morse. Arthur Blok, seu assistente, rapidamente percebeu que os sons formavam palavras como ‘rats’ (‘vagabundos’) e frases como ‘"there was a young fellow of Italy, who diddled the public quite prettily’ (‘Havia um jovem italiano que enganou o público muito bem’). A controvérsia foi parar nos jornais e não demorou muito para que um concorrente, Nevil Maskelyne, fosse a público se identificando como o autor da façanha. Se a história guarda alguma semelhança com a atualidade, ela fica idêntica ao analisarmos os motivos por trás da ação de Maskelyne: Primeiro, ele era um concorrente de Marconi enfurecido com a impossibilidade de desenvolver a tecnologia do telégrafo sem fio por conta do número de patentes registradas por Marcnoni. Basicamente, as patentes de Marconi impossibilitavam o desenvolvimento da competição. Segundo, ele foi contratado pelas empresas de cabo submarino - que tinham muito a perder com o desenvolvimento da tecnologia sem fio – para descreditar publicamente o sistema de Marconi. E, por fim, ele justificou a violação do sistema de Marconi na alegação de que era importante alertar o público a respeito de como suas conversas privadas ficariam expostas ao público, ao contrário do que Marconi e Fleming alegavam. A reação de Fleming também guarda grande semelhança ao que acontece hoje: sua resposta focou essencialmente em atacar o ato e a personalidade de Maskelyne, em vez de resolver a falha do sistema que foi exposta por ele. O artigo da NewScientist pode ser ligo (em inglês) aqui. Uma das formas clássicas de diferenciar uma república de uma monarquia era que a alternância do poder naquela não estava atrelada ao vínculo sanguíneo entre pessoas, enquanto nessa estava. Essa diferença foi mitigada ao longo do tempo, por um lado porque nas monarquias constitucionais (as democráticas) os reis deixaram de ter qualquer poder, e nas repúblicas sob ditadura o poder muitas vezes passou a ser transferido de pai para filho. Síria é um caso de uma república que se comporta como uma monarquia, com filho sucedendo o pai. O Arzeibajão é outro. Em Cuba, o poder passou de um irmão para outro, como em algumas monarquias islâmicas. Mas nenhum exemplo é melhor do que a Coreia do Norte: Kim Il-Sung, chamado de ‘o eterno líder’, fundou a república depois do armistício na Guerra da Coreia, em 1953. Depois de sua morte em 1994, assumiu o poder seu filho, Kim Jong-Il, autodenominado ‘o querido líder’, que por sua vez deve ser agora sucedido por seu filho mais novo, Kim Jong-Un, de 28 anos (como tudo na Coreia do Norte, sua idade não é certa). Com um PIB estimado de US$28 bilhões, sua economia é menor que países como Etiópia e Gana, ou mesmo do Mato Grosso. Em termos de comparação, a Coreia do Sul tem um PIB 36 vezes maior: acima de US$1 trilhão. Cercada de gigantes econômicos como Japão, China, Coreia do Sul e Rússia, o país é um dos mais pobres do mundo, com um PIB per capita de US$1,2 mil (novamente, a título de comparação, o PIB da Coreia do Sul é 17 vezes maior: US$20,7 mil). Ou seja, a Coreia do Norte não interessa, certo? Errado. Se ela não tem importância econômica, ela tem enorme importância militar. E não só por conta de estar rodeada de potências econômicas: a Coreia do Norte possui bomba atômica e mísseis de médio alcance. E para tornar a situação ainda mais complicada, sua fronteira sul está a meros trinta quilômetros de Seoul, capital da Coreia do Sul e onde mais de um quinto dos 48,9 milhões de sul-coreanos moram. A título de comparação, essa distância é a mesma do aeroporto de Guarulhos até o centro de São Paulo. Um soldado norte coreano estacionado na fronteira ao sul de seu país está cinco vezes mais próximo da capital da Coreia do Sul do que da sua própria capital. Se a Coreia do Norte quiser realmente fazer um estrago nuclear na principal cidade da Coreia do Sul, ela sequer precisa invadir o território inimigo: basta lançar suas bombas ou fazer testes nucleares no sul de seu próprio território. O efeito na população vizinha será sentido mais do que por sua própria população. A fronteira nordeste do país está a meros quinhentos quilômetros de Honshu, a principal ilha do arquipélago japonês, e onde Tóquio está situada. E Beijing, a capital chinesa, está a menos de setecentos quilômetros de distância da fronteira noroeste. Se isso não bastasse, a Coreia do Norte ainda conta com o quarto exército estimado em 1,1 milhão de soldados na ativa, atrás apenas da China (2,3 milhões de soldados na ativa), EUA (1,5 milhão) e Índia (1,3 milhão). Isso para um país com 24 milhões de habitantes. Ninguém sabe exatamente o quanto a Coreia do Norte gasta com suas forças armadas, mas estima-se que seja o país que mais gasta em proporção ao seu PIB. Se tudo isso não bastasse, a guerra com a vizinha do sul ainda não terminou. A guerra, que começou em 1950, tecnicamente, está em um estado de armistício desde 1953, quando os dois países foram separados. Armistício, vale lembrar, é quando os países continuam em guerra declarada mas suspendem as agressões na esperança de conseguirem chegar a um acordo, ou ao menos de não se autodestruírem. Não bastasse tudo isso, a Coreia do Norte é o regime menos democrático do mundo. Segundo o ranking anual da revista The Economist, a Coreia do Norte consegue ser 29% mais ditatorial do que o Chade, a segunda pior ditadura do planeta. Ninguém sabe exatamente o que se passa no país. E aí entra o quarto ponto crucial: além de ser um dos países mais pobres do mundo, armado até os dentes e em uma localização estratégica, a total ausência de democracia faz com que qualquer negociação se torne, no mínimo, confusa. Ao contrário do que ocorre com as democracias, que se tornam mais estáveis com maior transparência/abertura, a única forma de ditaduras se manterem estáveis é se fechando: quanto mais fechadas, mais estáveis. Ditaduras fechadas, 'pero no mucho', acabam desmoronando. Mas, quanto mais fechadas, mais difícil é estabelecer e manter qualquer diálogo interno ou externo. Pior: mudanças bruscas - como a morte de um líder ou uma catástrofe natural - torna o cenário instável porque ninguém (dentro ou fora do país) sabe exatamente quais são as regras a serem seguidas. Desde que começou a 'pacificação' da cidade do Rio de Janeiro em 2008, quase todos os dias ouvimos falar a respeito, mas como isso funciona exatamente? Quais lugares são ‘pacificados’, como e por quê? A pacificação do Rio de Janeiro é um programa elaborado pela Secretaria de Estado de Segurança que visa recuperar territórios ocupados há décadas por traficantes e milicianos. Através das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), o programa tenta promover a aproximação entre a polícia e a população (chamado de ‘polícia de proximidade’) e fortalecer programas sociais nas comunidades antes negligenciadas. No Rio de Janeiro existem três principais facções do tráfico: o Comando Vermelho (CV), o Terceiro Comando (TC), e os Amigos dos Amigos (ADA). Essas quadrilhas, que se instalaram em diferentes comunidades da cidade do Rio de Janeiro na década de 70. Paralelo a eles, atuam também milicianos – quase sempre formados por policiais – que competem com os traficantes pelo controle do território. Os principais perdedores dessa guerra sempre foram os moradores daquelas comunidades, que vivem sob o terror dos criminosos. A pacificação tenta resolver o problema em três frentes: ‘retomando’ os territórios, expulsando os grupos criminosos e integrando as comunidades à cidade. A elaboração, organização e o trabalho da inteligência do programa de pacificação são feitos pela Secretaria de Segurança Em princípio, as principais forças policiais do Rio de Janeiro (polícias civil e militar) são subordinadas à Secretaria, mas são principalmente dois departamentos da Polícia Militar que realizam o projeto da pacificação: o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) e as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). O Bope foi fundado em 1978 como uma tropa de elite para conflitos urbanos, enquanto as UPPs, criadas a partir de 2008, seguem um modelo de policial comunitário, nos quais os policiais desenvolvem um conhecimento detalhado da região onde atuam. Em algumas circunstâncias, as forças policiais também recebem o apoio das Forças Armadas, como aconteceu por exemplo durante a ocupação do Complexo do Alemão em 2010 e da Rocinha em 2011. A pacificação consiste de quatro fases consecutivas:
A Retomada do território e a Estabilização (fases 1 e 2) são responsabilidades do Bope. A retomada, o nome já indica, consiste na entrada da polícia na favela. Pode parecer algo simples, mas esse sempre foi um dos principais entraves no combate ao tráfego de drogas. A polícia simplesmente não conseguia entrar em favelas como a Rocinha e o Complexo do Alemão. A estabilização visa fortalecer o controle estadual na comunidade e eliminar as últimas celas de resistência. É possível que essa fase demore várias semanas ou meses e em alguns casos é necessários o contínuo apoio pelas Forças Armadas. Na terceira fase (ocupação definitiva), uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) é instalada dentro da comunidade e fica permanentemente no local para melhorar a relação entre os moradores e a polícia. A ideia é começar a construir a credibilidade da polícia junto à comunidade e vice-versa. Isso é importante porque sem o apoio da população local, os traficantes vão eventualmente voltar a atuar naquela favela Na última fase (a pós ocupação), as UPPs recebem apoio do programa UPP Social, da prefeitura, para coordenar esforços dos vários órgãos públicos e promover parcerias com o setor privado e a sociedade civil a fim de que a comunidade seja realmente integrada à cidade. Nos primeiros três anos de pacificação, as seguintes 18 comunidades já receberam uma UPP (em ordem cronológica):
No total, já são cerca de 300 mil pessoas habitando nas regiões cobertas pelas UPPs. Esses números excluem o Complexo do Alemão e a Rocinha, onde já se realizaram operações de retomada, mas onde as comunidades ainda se encontram na fase de estabilização (ainda não contam com uma UPP). Embora a retomada seja fisicamente o momento mais perigoso, não é necessariamente o mais difícil, e Rocinha e Alemão são exemplos disso. O recrutamento e treinamento dos novos policiais da UPP é um processo longo. O Complexo do Alemão, por exemplo, deve receber sua UPP apenas em 2012, quando o governo conseguirá ter treinado uma quantidade suficiente de policiais trabalhar na nova unidade. A comunidade da Rocinha deve esperar ainda mais pela chegada da UPP. No total, o governo estadual diz que pretende pacificar 40 comunidades até a Copa em 2014 e outras 60 até as Olimpíadas de 2016. Como se trata de um trabalho de inteligência policial, as informações sobre as próximas comunidades a serem pacificadas não são normalmente informadas pelo governo. Dudu, Thiaguinho, Pingo, Bem-te-Vi, Marcinho VP e Elias Maluco. Se lidos sem atenção, sequer lembramos que são os nomes de guerra de Emerson Rodrigo Rezende dos Santos, Thiago Augusto dos Santos Igreja, Irineu Domingo Soligo, Erismar Rodrigues Moreira, Márcio dos Santos Nepomuceno e Elias Pereira da Silva, todos suspeitos de envolvimento em crimes com requintes como decapitação, asfixia, tortura e fogo. Mas seus apelidos remetem mais a personagens de revista em quadrinhos do que à imagem de psicopatas. Com um pouco de imaginação, conseguimos até visualizar Dudu brincando com seu amiguinho Bem-te-vi e o cachorrinho Pingo embaixo de um sol sorrindo no céu azul, até que o Doutor Delegado em sua farda negra aparece para acabar com alegria de todo mundo. Que criança não gostaria de ser parte desse mundo idílico onde todos têm nomes tão carinhosos, tão parecidos com os apelidos afetuosos que os próprios pais usam para se referir a ela? As finalidades mais óbvias de um apelido são quando não se consegue pronunciar o nome da pessoa, para se fazer referência à posição social ou laboral do sujeito, ou para identifica-lo através de uma característica física. Mas esses não são os casos dos apelidos no primeiro parágrafo acima. Mas há uma segunda dimensão na função dos apelidos: eles servem para aproximar ou distanciar o sujeito. Gostar de alguém chamado ‘Lula’, ‘Collor’ ou ‘Jango’ é incrivelmente mais fácil do que de alguém chamado ‘Luiz Inácio’, ‘Fernando Affonso’ ou ‘João Goulart’. E quem gostaria de ser amigo do ‘Carrasco do Maracanã’ ou do ‘Anjo da Morte’? O primeiro grupo é composto por construções que nos lembram alguém que seria incapaz de causar um dano ou impor medo, enquanto o segundo nos faz pensar em perigo e temor. O primeiro grupo é composto de imagens pueris, quase sempre no diminutivo ou que de alguma forma infantilizam ou levam à imagem de inocência ou pureza. ‘Dudu’ é o apelido dado quando não se consegue sequer pronunciar ‘Eduardo’. O segundo grupo é composto por palavras que levam a imagens sombrias, frias, impessoais e ásperas. Muitos dos criminosos expostos diariamente na mídia são apelidados de forma carinhosa, como se fossem crianças ingênuas. Mas os agentes do estado já chegam com a simbologia impessoal da burocracia: doutores, tenentes, sargentos etc. É difícil imaginar uma criança pedindo o bonequinho de pelúcia ‘Major do Bope’ ou um ‘Caveirão’ de Natal, mas um boneco de pelúcia chamado Elias Maluco é algo com o qual se pode dormir abraçado. Aliás, por saber disso, a indústria de brinquedos norte-americana teve que encontrar soluções criativas para vender. Crianças não querem brincar um boneco chamado ‘Soldado Joe’. Mas chame-o de G.I. Joe, e tem-se um sucesso de vendas. Não querem brincar com a figurinha do Capitão Steve Roger, mas chame-o de Capitão América e tem-se outro sucesso. Texto publicado na Folha de hoje (10/12/11): Em 1950, Robert Schuman, então ministro de exterior francês, apresentou a gênese do que hoje se tornou a União Europeia. Segundo ele, "o estabelecimento da solidariedade [do processo] de produção tonará qualquer guerra entre França e Alemanha não apenas impensável, mas materialmente impossível". Seis décadas depois, é fácil esquecer a lição de Schuman, mas ela ainda é a razão de ser da união. A prosperidade econômica e a integração social são meios para um objetivo mais nobre: a paz. Paz alcançada por causa da riqueza gerada pelo livre comércio, por causa da relutância dos países em destruírem essa riqueza iniciando uma guerra contra o vizinho e por causa da mútua dependência: eu não construo tanques sem seu aço. O mesmo ocorre com a integração social: é mais difícil guerrear contra alguém que você reconhece como igual, de quem você depende, e que contribui para sua riqueza. Graças à União, os países da Europa Ocidental nunca viveram um período tão longo de prosperidade e paz. São quase 70 anos sem guerras em seus territórios. Os traumas das duas guerras mundiais impulsionaram as gerações de ontem a aceitarem a dor da integração. Dos males, o menor. Mas as gerações de hoje não conhecem o horror de uma guerra em primeira pessoa. É fácil subestimarem o papel que a união tem em sua prosperidade e o risco que seu fim ou fragmentação representa. E o sucesso da União serve ao resto do mundo. Uma Europa rica não só consome vorazmente e produz eficientemente. Ela também evita uma corrida armamentista que põe em risco seus vizinhos, e que serve de justificativa para países alhures se armarem até os dentes. Sua fragmentação gera imprevisibilidade. Uma Europa unida é um ator único com quem é fácil dialogar, onde radicalismos locais são atenuados pela média dos demais membros. Fragmentada, são 27 países com agendas em conflito e onde o protecionismo e nacionalismo de um único país pode forçar os demais a decisões extremas. Pesquisa interessante publicada essa semana. A Accuvant Labs analisou a segurança dos três principais navegadores na internet: Internet Explorer (da Microsoft), Chrome (do Google), e Firefox (da Mozilla). Juntos eles representam mais de 93% do mercado, segundo a empresa. Segundo a pesquisa, o Chrome é o mais seguro, seguido do Explorer. Esse tipo de ranking é perigoso. Primeiro, porque presume que todas as possibilidade foram exploradas. Não foram. Como qualquer pesquisa, ela tem um limite de escopo. Algumas coisas são testadas, outras não. No caso dessa pesquisa, o problema é ainda maior: eles olharam apenas algumas partes escolhidas previamente em cada um dos sistemas. Algo como 'Tem? Funciona?", mas deixaram de lado outras partes que são tão importantes quanto ou que são únicas daquele sistema. Mas há um segundo problema ainda mais grave: ainda que ela conseguisse analisar todos os aspectos de cada um dos três programas, ela teria olhada apenas quão seguro é o sistema, e deixado de lado qual o nível de ataque que o sistema sofre. Imagine que você more em um castelo na idade média. Se você têm muralhas grossas e altas, você estará mais protegido que seu vizinho que mora em um castelo sem muralhas. Mas a espessura de sua muralha só te protege até um determinado ponto. Se milhares de outras pessoas têm castelos com muralhas iguais à sua, os invasores têm um incentivo maior para procurar as vulnerabilidades naquele tipo de muralha, porque tão logo descubram o que funciona para invadir uma, eles automaticamente poderão invadir todos os castelos protegidos por aquele tipo de muralha. Mas se você é a única pessoa a usar aquele tipo de muralha, os invasores oportunistas só terão incentivo para tentar quebrar sua muralha se o que você guardar dentro for muito atraente ou se a muralha parecer muito vulnerável Caso contrário, eles vão procurar outros castelos para atacarem que justifiquem seus esforços. Logo, a fatia de mercado de cada um dos navegadores é um fator importante em qualquer análise de segurança cibernética. Quanto mais popular, mais atenção – e, por conseguinte, ataques - ele irá atrair, o que diminui o nível geral de proteção do usuário. |
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