Segundo as testemunhas, a agressão foi causada porque os criminosos suspeitavam que o motorista estivesse embriagado.
Um dos problemas de fazer justiça com a próprias mãos é que, embora ela possa satisfazer a cólera imediata de quem lincha, a longo prazo ela gera resultados piores para a sociedade e, como consequência, para os próprios agressores.
Quando os agressores resolveram linchar a vítima, não tinham como saber se ela de fato estava embriagada. Mas resolveram ir em frente mesmo assim. Independente se ela estava embriagada, o resultado negativo no longo prazo é o mesmo. Vejamos:
Se estivessem errados sobre a embriaguez – como de fato parece ser o caso – acabaram matando alguém que precisava de ajuda e que não cometeu nenhum delito.
Mas mesmo se estivessem corretos sobre a embriaguez, além de terem ainda cometido um crime, acabaram criando duas situações contrárias aos interesses da sociedade: primeiro, no futuro podem ser elas mesmas que sejam linchadas, ou alguém próximos a elas. Uma ação ilegal acaba criando a percepção de que se pode agir daquela forma. Uma forma de ‘autorização’ para novas ações ilegais. Cria-se um círculo vicioso. Hoje eu te lincho, amanhã posso ser eu o linchado. Eles não tornaram suas vidas mais seguras a longo prazo:, eles as fizeram menos seguras. A ideia de Estado e de Justiça existe justamente para evitar que nos protejamos. A primeira razão para a existência de um Estado é servir como intermediário entre os meus direitos (a começar pela vida) e os impulsos de outras pessoas (inclusive o de me matarem). A partir do momento em que eu deixo de respeitar esse papel do Estado, eu o estou enfraquecendo e, por consequência, me expondo ainda mais à violência arbitrária de outras pessoas.
O segundo ponto é menos filosófico e mais prático, mas com o mesmo resultado: quando alguém é atropelado, a vítima tem uma chance de sobreviver muito maior se é socorrida imediatamente. E quase sempre quem atropelou é quem está em melhor posição para prestar primeiros socorros, pois ele está lá no local. Mas, se esses motoristas agora temem por suas vidas, eles não irão parar para ajudar. E aqueles que não iriam parar de qualquer maneira agora têm uma desculpa para fugirem do local. Se o motorista que para para socorrer corre o risco de ser linchado, a decisão mais racional acaba sendo fugir do local. Mas, fugindo do local, a vítima tende a sofrer consequências mais graves porque o socorro demorará mais. E, pior, na sua fuga apressada para salvar a própria vida a chance de ele causar dano a mais pessoas aumenta.