Não pelo teste em si: o país já havia feito ao menos outros dois testes envolvendo detonação nuclear. Mas uma série de fatores tornam o cenário atual muito mais perigoso.
Primeiro, a explosão registrada nesse teste foi muito maior e, segundo o governo nortecoreano, a bomba utilizada é muito menor e mais leve.
Combine-se isso com o fato de o país ter testado mísseis de longo alcance em dezembro do ano passado, e temos uma ideia do potencial destrutivo do projeto nuclear nortecoreano.
A Coreia do Norte não precisa de mísseis de longo alcance para destruir a Coréia do Sul. 27km separam a capital sulcoreana da fronteira com a Coréia do Norte. Algo como a distância entre o aeroporto de Guarulhos e São Paulo. Se a Coreia do Norte detonar uma bomba nuclear na sua fronteira ao sul, os efeitos serão mais devastadores na Coreia do Sul do que na do Norte.
Investimentos em mísseis de longo alcance por um dos países mais pobres do mundo só se justificam se suas ambições militares envolverem outros alvos, como Japão ou mesmo EUA.
O desenvolvimento da tecnologia de enriquecimento do material nuclear, e das tecnologias balísticas (construção e controle dos mísseis), além do desenvolvimento da própria bomba em si, são os três passos mais complexos no desenvolvimento de mísseis nucleares. E a Coreia do Norte já praticamente completou esse percurso. A transformação da bomba em uma orgiva é uma consequência quase natural nessa curva de aprendizado tecnológico. Para quem já construiu a bomba e o míssil, colocar uma bomba em cima do míssil é fácil.
Mas o que torna esse teste particularmente perigoso é o fato de ele - ao que tudo indica - ter envolvido a detonação de uma bomba feita com urânio, e não com plutônio, como nos dois testes anteriores.
Plutônio é um material muito mais raro do que urânio. Mesmo dominando a tecnologia, o país não conseguiria desenvolver rapidamente várias armas com plutônio. Mas a Coreia do Norte já é capaz de enriquecer urânio, um material ao qual tem fácil acesso. Na prática, isso significa que o país pode, agora, desenvolver um número incrivelmente maior de armas nucleares.
O governo nortecoreano mostrou aos longo das últimas seis décadas que controla sua população, e pouco se importa com ela. E, ao longo dos últimos anos, também tem mostrado que seu principal ‘aliado’ na comunidade internacional - a China - tem menos poder de influenciá-lo do que se imaginava. Tampouco ele se mostra enfraquecido com sucessivas rodadas de embargos e outras sanções.
Juntando todas as peças do quebra-cabeça, tem-se um país com tecnologia nuclear e balística, e sobre o qual nem sua população, nem a comunidade internacional têm capacidade de controle ou influência. E, dado a localização e o estágio de desenvolvimento militar, contra o qual uma intervenção militar significa uma guerra com consequências inimagináveis.
Para complicar, uma vez desenvolvidas as armas nucleares, pouco importa se a maior parte das forças armadas se render ao primeiro tiro, como fizeram as forças iraquianas sob Saddam Hussein nas duas guerras do Golfo. Em uma guerra nuclear, basta um único centro de controle leal ao ditador para lançar os mísseis contra alvos pre-determinados.