Mas seus apelidos remetem mais a personagens de revista em quadrinhos do que à imagem de psicopatas. Com um pouco de imaginação, conseguimos até visualizar Dudu brincando com seu amiguinho Bem-te-vi e o cachorrinho Pingo embaixo de um sol sorrindo no céu azul, até que o Doutor Delegado em sua farda negra aparece para acabar com alegria de todo mundo.
Que criança não gostaria de ser parte desse mundo idílico onde todos têm nomes tão carinhosos, tão parecidos com os apelidos afetuosos que os próprios pais usam para se referir a ela?
As finalidades mais óbvias de um apelido são quando não se consegue pronunciar o nome da pessoa, para se fazer referência à posição social ou laboral do sujeito, ou para identifica-lo através de uma característica física. Mas esses não são os casos dos apelidos no primeiro parágrafo acima.
Mas há uma segunda dimensão na função dos apelidos: eles servem para aproximar ou distanciar o sujeito. Gostar de alguém chamado ‘Lula’, ‘Collor’ ou ‘Jango’ é incrivelmente mais fácil do que de alguém chamado ‘Luiz Inácio’, ‘Fernando Affonso’ ou ‘João Goulart’. E quem gostaria de ser amigo do ‘Carrasco do Maracanã’ ou do ‘Anjo da Morte’?
O primeiro grupo é composto por construções que nos lembram alguém que seria incapaz de causar um dano ou impor medo, enquanto o segundo nos faz pensar em perigo e temor. O primeiro grupo é composto de imagens pueris, quase sempre no diminutivo ou que de alguma forma infantilizam ou levam à imagem de inocência ou pureza. ‘Dudu’ é o apelido dado quando não se consegue sequer pronunciar ‘Eduardo’. O segundo grupo é composto por palavras que levam a imagens sombrias, frias, impessoais e ásperas.
Muitos dos criminosos expostos diariamente na mídia são apelidados de forma carinhosa, como se fossem crianças ingênuas. Mas os agentes do estado já chegam com a simbologia impessoal da burocracia: doutores, tenentes, sargentos etc.
É difícil imaginar uma criança pedindo o bonequinho de pelúcia ‘Major do Bope’ ou um ‘Caveirão’ de Natal, mas um boneco de pelúcia chamado Elias Maluco é algo com o qual se pode dormir abraçado.
Aliás, por saber disso, a indústria de brinquedos norte-americana teve que encontrar soluções criativas para vender. Crianças não querem brincar um boneco chamado ‘Soldado Joe’. Mas chame-o de G.I. Joe, e tem-se um sucesso de vendas. Não querem brincar com a figurinha do Capitão Steve Roger, mas chame-o de Capitão América e tem-se outro sucesso.