"Cada crime tem sua lógica e demanda estratégias específicas de prevenção. Os roubos a condomínios são cometidos por grupos organizados. É um crime que exige planejamento. Dados precisam ser obtidos de um funcionário corrupto ou da observação do alvo. Requer conhecimento e paciência, algo escasso entre infratores.
É também um tipo de crime no qual os infratores trabalham juntos há algum tempo. Essa é a chave para se entender por que os capturados têm em média mais de 30 anos. São veteranos, uma vez que a carreira criminal típica começa por volta dos 15 anos.
Esse crime exige ainda recursos: armas, telefones, rádios e carros fazem parte do 'kit básico' do assaltante. Estamos diante de um exemplo de ação do crime organizado praticada por grupos que migram de uma atividade para outra, ou mudam sua área de atuação. Os investimentos feitos pelas polícias na repressão ao sequestro, ao roubo de banco e de carga aumentaram o custo desses crimes. A lógica econômica do crime organizado é simples: quanto maior o custo, menor os ganhos.
Os roubos a condomínio aumentaram porque esse tipo de crime ficou mais barato. Pode não ser o mais lucrativo, mas a probabilidade de captura e condenação representa um custo importante na decisão dos criminosos.
Condomínios são mais fáceis de serem roubados do que bancos. No mercado do crime, os grupos mais organizados são os que ocupam os melhores nichos e descobrem mais depressa as oportunidades de 'negócios'.
O problema pode ser controlado com o aumento dos gastos privados com segurança. A expansão dos serviços que ocorreu nas últimas décadas tem modificado até mesmo a forma como é exercido o policiamento público.
E isso não é necessariamente ruim. As ações entre as polícias e a segurança privada podem ser complementares em vários sentidos e podem produzir benefícios para toda sociedade, não apenas para quem paga pelo serviço privado. O aumento da segurança privada não significa a erosão do poder do Estado.
Viver em um mundo mais violento, com mais crimes, exige maiores gastos com segurança, principalmente o gasto privado. Essa é uma resposta racional ao risco".
Na verdade, tanto sociedade quanto criminosos não agem de forma tão racional.
Semana passada colocamos um pequeno experimento online para mostrar isso. Perguntamos se os leitores preferiam cometer um crime apenado com 10 anos de prisão e 20% de captura e condenação, ou um apenado com 2 anos e 100% de captura e condenação. Nada menos do que 18 em cada 19 disseram preferir praticar o crime cuja a condenação é de 10 anos, mas com 20% de captura e condenação.
Na verdade, ambos os resultados são idênticos. Em média você será apenado a 2 anos de prisão. No primeiro caso, o criminoso tem 1 em 5 chances de ser condenado a 10 anos. Ou seja, 20% de chance de ser condenado a 10 anos de prisão. Como sabemos, 20% de 10 anos é igual a 2 anos (10 x 0,2 = 2). No segundo caso, há 100% de chance de ser condenado a 2 anos de prisão. 100% de 2 anos é igual a… 2 anos.
Embora os resultados sejam idênticos, nada menos do que quase 95% dos leitores que responderam à pesquisa disseram preferir o primeiro cenário. A chance de isso ter ocorrido por acaso é de mero 1 em 360 mil (na ordem de magnitude de um exame de DNA estar errado, como vimos semana retrasada).
Os criminosos não são diferentes. A grande maioria age não baseados no real risco de serem capturados e condenados, mas na percepção de que serão capturados e condenados.
É por isso que tantos juristas e cientistas políticos e sociais dizem que o problema não está em aumentar as penas, mas em dar a certeza de que todos os criminosos serão capturados e condenados.