“Dilma mandará emissários para falar com Fitch e S&P
O governo decidiu fazer uma ofensiva com as principais agências de classificação de risco para evitar que elas sigam a trilha da Moody's e declarem a Petrobras empresa insegura para investir.
Em outra ponta, o Palácio do Planalto reforçará o recado de que o ajuste fiscal em curso é factível e que não há razão para o Brasil também ter sua nota rebaixada. Nas próximas semanas, emissários presidenciais buscarão conversas com a Fitch e a Standard & Poor's (...)
A importância da Petrobras para a economia brasileira é tão grande que não restou outra alternativa à presidente a não ser trazer o rebaixamento para o colo da petista, que saiu em defesa da empresa estatal.
A ordem interna é repetir que o ‘rating’ nacional não está sob risco. Mas, nos bastidores, interlocutores presidenciais reconhecem que essa possibilidade se tornou real com a decisão da Moody's”.
O gráfico que fizemos acima é um cruzamento entre as notas da S&P para débitos de diferentes países em moeda externa e o retorno demandado por investidores para comprar títulos a serem pagos em 5 anos desses mesmos governos. Em outras palavras, no eixo horizontal do gráfico, temos o grau de risco daquele país segundo a agência de risco, e no eixo vertical do gráfico temos o quanto um investidor demanda de compensação/retorno para comprar o título daquele governo. O Brasil é o ponto laranja no gráfico.
Há várias observações importantes aqui. Mas foquemos nas duas principais:
Primeiro, quanto maior o risco (ou seja, à medida que vamos da esquerda para a direita no gráfico), maior é o retorno demandado pelos investidores. Se você vai emprestar dinheiro para alguém em quem não confia, vai exigir juros maiores do devedor. Essa regra básica de economia vale tanto para seu cheque especial quanto para empresas e, como o gráfico mostra, para governos. Logo, um rebaixamento da avaliação de um governo, empresa ou pessoa vai tornar seus futuros empréstimos mais caros. Pense no caso da Argentina: se você é conhecido por dar calote em seus credores, novos credores ou não vão emprestar dinheiro a você ou vão exigir juros altos para justificarem o risco de emprestar-lhe dinheiro.
A segunda observação relevante é que, embora haja uma correlação entre risco e retorno, a correlação não é necessariamente automática. Por exemplo, investidores demandam retornos diferentes de países com risco idênticos. Por exemplo, o retorno esperado de títulos de 5 anos italianos é de 0.7 pontos, enquanto o do Brasil é 12.8 pontos, ainda que ambos os países tenham o mesmo grau de risco (BBB-), segundo a agência.
Isso ocorre porque não é a agência de risco quem determina o retorno que os investidores devem exigir. Ela apenas diz que, dados os fatos analisados, tal governo apresenta tal risco. Cabe ao investidor determinar qual o retorno quer para aceitar tal risco.
E é aqui que entra uma das principais críticas às agências de avaliação de risco: se a análise de risco de fato é precisa e toma em conta todos os riscos relevantes, investidores racionais deveriam esperar retornos idênticos para riscos idênticos. Se esperam retornos tão diferentes de devedores com o mesmo grau de risco é porque as agências estão deixando de levar em conta algum fator relevante que os investidores estão levando em conta.
Ou as agências estão corretas e os investidores estão agindo de forma irracional, ou os investidores age racionalmente e as agências estão deixando de levar em conta algum outro fator de risco importante.
Mesmo que as agências estejam negligenciando algum risco que justifique essas diferenças em retornos esperados por investidores, a tendência de risco maior/retorno maior fica clara olhando a curva no gráfico acima.
Logo, uma piora na avaliação de um país (ou empresa ou pessoa) tende a aumentar o retorno exigido por seus credores./investidores.
Mas o que a piora da avaliação de uma empresa como a Petrobras representa para quem não compra ações? Muito.
Por exemplo, seu fundo de pensão muito provavelmente tem ações da Petrobras (e de outras estatais). Se a Petrobras precisa pagar mais aos credores, terá menos dividendos para pagar a seus acionistas. Sua aposentadoria sai comprometida.
Mas mesmo que você não tenha um fundo de pensão, provavelmente usa transporte particular ou público. Se a Petrobras precisa gastar mais pagando seus credores, esse custo em algum momento precisará ser repassado aos seus produtos finais: combustíveis e outros derivados. Não é só seu transporte que fica mais caro: insumos para empresas ficam mais caros. Produtos no supermercado ficam mais caros. Você fica mais pobre.