“Nasce uma estrela
Sabe a história do "falem mal, mas falem de mim"? Foi o que aconteceu com o pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP).
Primeiro, reagiu acabrunhado à ira contra sua ida para a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. Depois, partiu para o ataque, chamou a polícia legislativa e bateu boca com manifestantes. Agora, virou celebridade!
Se até na França, que desfraldou os princípios de igualdade e fraternidade, milhares vão às ruas contra o casamento gay, imagine aqui, no Brasil, onde as ovelhas de igrejas evangélicas e de muitos embustes proliferam como coelhos...
Um punhado de artistas, jornalistas e humanistas horrorizou-se com as posições racistas e homofóbicas de Feliciano, mas milhões de pessoas pensam como ele. A cada Caetano Veloso indignado, há quantas centenas de almas racistas e homofóbicas, mais ou menos enrustidas?”
É fácil nos esquecermos que democracia não é um objetivo em si. Ela é o meio para construirmos uma sociedade na qual todos temos o mesmo direito de sermos ouvidos.
Tampouco ela é algo perfeito. Pelo contrário. Como Churchill definiu, ela é o mais imperfeito dos sistemas, exceto todos os demais já tentados ao longo da história humana.
De todas as imperfeições do processo democrático, a mais trágica é que ela nos permite eleger pessoas que trabalham contra o próprio processo democrático.
Democracia não é antidoto contra a eleição de maus representantes. Pelo contrário: ela possibilita que maus representantes cheguem ao poder da mesma forma que bons representantes. Hitler foi eleito democraticamente.
O processo democrático é cego. Ele não olha a qualidade do candidato, da mesma forma como também não olha a qualidade do eleitor. E é aí que reside sua beleza. Ele não tem preferidos.
‘Ah, mas se a democracia possibilita que maus representantes cheguem ao poder, então por que lutar por ela?’
Porque embora a democracia não seja capaz de impedir que maus candidatos sejam eleitos, nós – eleitores – somos. O único mecanismo de controle contra a chegada ao poder de maus representantes somos nós, eleitores. E apenas na democracia os eleitores são legitimamente ouvidos.
Em uma ditadura, esse único mecanismo de controle é silenciado: os eleitores não vão às urnas ou só vão às urnas para referendar uma decisão já predeterminada. Se uma democracia não garante que maus representantes cheguem ao poder, uma ditadura garante que eles cheguem e permaneçam lá.
Se elegemos um nazista, racista, demagogo, palhaço, louco ou qualquer outra pessoa que desaprovamos, a culpa não é da democracia. É nossa.
‘Ah, mas eu não votei em Fulano’. Mas tampouco nos dispusemos a evitar que ele fosse eleito, nos apresentamos como alternativas ou apoiamos outras alternativas. Nossa apatia ou comodismo são os únicos responsáveis pelos resultados das urnas.
Se há uma semelhança entre ditaduras e democracias é que em ambas a omissão nos faz cúmplices dos resultados com qual temos que conviver.
Mas se o lado mais trágico da democracia é que ela possibilita a chegada de um mau representante ao poder quando erramos ao votar, o seu lado mais belo é que ela nos possibilita aprendermos com nossos erros. Em uma ditadura, não há essa possibilidade.