“Punidas pelo sexo: a olímpica e a congressete
Denise Leitão Rocha (…), a ex-assessora jurídica parlamentar do senador Ciro Nogueira (PP/PI).
Nogueira, como os amigos piauienses sabem, não tem lá essa reserva moral toda. O membro da CPI do Cachoeira demitiu a congressete depois que um vídeo de sexo da moça - com um suposto namorado - vazou na rede.
Vivemos a era do suposto. O suposto ladrão. O suposto amante. O suposto escândalo. O suposto jornalismo.
A garota é amiga de sua excelência o deputado Romário (PSB-RJ). Ponto a favor. A garota quer subir na vida. Nada contra. A garota pode até ser oportunista qual o ex-atacante na área e ter cavado uma capa de ‘Playboy’ como quem busca um pênalti.
O oportunismo, reza a cartilha liberal, é um princípio limpo, legalíssimo.
A ironia é ser demitida por um simples, livre e prazeroso ato sexual em meio à sacanagem explícita do Congresso.”
O vídeo com cenas explícitas de sexo entre a agora ex-assessora parlamentar e seu parceiro foram parar na internet. Ela era assessora de um deputado federal, um cargo não só de confiança mas que, necessariamente, está submetido ao escrutínio público por ter relação tão próxima do poder. Logo, a divulgação de tal vídeo tem interesse jornalístico, certo? Não.
O interesse jornalístico existe quando personagem e situação geram interesse não como mera curiosidade, mas como informação relevante do ponto de vista político, social, econômico etc.
Vamos a um exemplo extremo: o presidente da República é flagrado fazendo sexo na Praça dos Três Poderes em troca de um cargo público. O personagem – presidente – gera interesse. Mas isso por si só não faz com que tudo que ele faça tenha interesse jornalístico. Enquanto presidente, seus atos têm interesse público, político, social, econômico etc. Mas ele também é um ser humano e, como tal, tem direitos à privacidade, sigilo de correspondência e comunicação etc. Logo, um email pessoal do presidente para seu filho desejando boa sorte na prova do colégio não tem qualquer interesse jornalístico porque diz respeito à relação de um pai com seu filho, apenas. Ainda que o pai seja presidente.
Mas se ele é flagrado fazendo sexo na Praça dos Três Poderes, isso tem interesse jornalístico não só por conta do personagem como da situação: ele estava em um local público. Se fulana resolve fazer sexo no mar em frente a uma praia cheia de pessoas, e alguém a filma, ela não pode mais tarde dizer que teve sua privacidade violada: foi ela quem violou sua própria privacidade. Quanto mais o personagem for público, mais fácil fica arguir que há interesse jornalístico, mas isso não quer dizer que um ilustre desconhecido não gere nunca interesse jornalístico. A vítima de um atentado pode gerar tal interesse, ainda que ela não seja uma pessoa pública ou tenha voluntaria ou involuntariamente se exposta.
Se o presidente faz sexo com alguém em sua casa em troca de um cargo público, isso também tem interesse jornalístico porque, ainda que ele esteja em sua casa, ele estava trocando um cargo público por sexo. O cargo precisa ser ocupado por alguém com capacidade e não por alguém que lhe satisfaça as fantasias.
(Aliás, o mesmo ocorreria no caso do diretor de uma empresa de capital aberto: os acionistas, e não ele, são donos da empresa. Logo, há interesse jornalístico se tal diretor troca cargo pago com o dinheiro dos acionistas pelo favor sexual do candidato ao emprego).
No caso da matéria acima, a pessoa é assessora parlamentar. O personagem tem interesse. Mas, ao que tudo indica, nada no vídeo dá a entender que havia interesse jornalístico no vídeo. Sua propagação, portanto, é um ato criminoso e que dá direito à vítima de ser ressarcida financeiramente.
Mas existem mais dois detalhes relevantes na história:
Primeiro, imaginemos que ela estivesse fazendo sexo com alguém em troca de influenciar o ex-chefe. Nesse caso haveria interesse jornalístico. Mas isso não dá o direito de divulgar o vídeo expondo os mais íntimos detalhes de seu corpo e de seu parceiro.
E aí aparece o segundo detalhe: a solução mais sensata é a adotada pelo jornalista na matéria acima, na qual ele fala do assunto, mas não expõe desnecessariamente as imagens íntimas dos envolvidos. Em outras palavras, o uso do bom senso.