“PM vai utilizar 'Tropa do Braço' em protesto pela primeira vez neste
A Polícia Militar de São Paulo prometeu utilizar neste sábado pela primeira vez em manifestações a "Tropa do Braço", conforme antecipou reportagem da Folha. Amanhã, no final da tarde, deve acontecer um protesto contra a Copa do Mundo no centro da capital.
A ideia do comando da polícia é identificar possíveis vândalos infiltrados no ato e retirá-los como forma de manter a ordem na manifestação. São homens que foram treinados há três meses que têm habilidades de artes marciais.
Segundo o capitão Emerson Massera, porta-voz da PM, esta é uma estratégia menos agressiva. ‘A ideia é de que já seja utilizada [a tropa] amanhã até para agir de maneira bastante pontual e utilizar recursos, na medida do possível, menos agressivos’, afirmou o oficial.”
Uma parcela da população faz uma manifestação contra algo que parece secundário. A polícia reprime violentamente. Uma parcela maior da sociedade toma as dores dos reprimidos não porque necessariamente concorda com aquilo que o grupo inicial reivindicava, mas porque defende seu direito de reivindicar. A polícia reprime mais violentamente. E em poucos dias aquilo que era um assunto secundário em jornais locais toma as primeiras páginas de todos os jornais do mundo. Governos que pareciam ao menos relativamente democráticos têm suas reputações, no mínimo, manchadas.
A manifestação poderia ser sobre a reforma de um parque em Istanbul, um acordo econômico na Ucrânia, ou o aumento de R$0,20 nas passagens de ônibus em São Paulo.
Durante toda a história humana houve fricções entre aqueles que detêm o poder e aqueles submetidos ao poder. Muitas vezes essas fricções tornaram-se violentas e o governante de plantão viu-se obrigado a usar a força do aparato estatal para garantir-se no poder. Algumas vezes os manifestantes foram bem sucedidos e derrubaram o governo (1917, na Rússia), outras vezes acabam em sepulturas (1989, na China). Algumas vezes a tomada de poder resultou em algo melhor (revolução francesa), outras vezes em algo pior (Venezuela sob Chávez). De boas intenções de déspotas e revolucionários, a história está cheia.
O que há sempre em comum é que ao usar a força para reprimir a violência, o risco de se criar uma espiral de ação e reação aumenta vertiginosamente. Afinal, ninguém gosta de apanhar e ninguém gosta de perder. Ao usar a violência para tentar permanecer no poder o governante está não só enfraquecendo sua legitimidade mas também diminuindo suas chances de permanecer no poder.
Logo, por que tais governantes não simplesmente tentam conter as manifestações sem usarem a violência?
Primeiro, porque aparato estatal (incluindo as forças de segurança) e governo nem sempre estão em sintonia. Ainda que o governante desautorize o uso da força, a polícia e as forças armadas acabam empregando a violência por falta de preparo, porque tem seus próprios objetivos, porque se viu em uma situação de matar ou morrer, ou porque a ordem em algum momento se perdeu ou foi distorcida na cadeia de comando.
Ademais, uma das formas de conter a violência é através do medo. Se o governo tem a força mas não está preparada para usá-la, é o mesmo que não tê-la.
Mas nada disso evita a possibilidade – ou probabilidade – da escalada de violência. Daí porque, em sendo possível, é de interesse do próprio governo evitar que a força seja usada e, se for necessário emprega-la, fazê-lo bem aquém do que seria legalmente justificável.