“Lewandowski é hostilizado por eleitores
O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski foi hostilizado por eleitores ontem, enquanto deixava sua zona eleitoral após votar, no Brooklin (zona sul de São Paulo).
Seu papel como revisor do mensalão lhe rendeu, de um mesário, o apelido de ‘Liberandowski’. O mesmo rapaz perguntou se ele já tinha dado ‘um abraço’ em José Dirceu, um dos réus que absolveu no julgamento. O mesário, um publicitário, não quis se identificar à reportagem”
Quando votamos em alguém, é essencial que gostemos de seu partido e do candidato. Seja uma eleição para o Legislativo, seja para o Executivo. Mas, no Judiciário, as coisas funcionam de forma diferente. Se gostamos ou detestamos esse ou aquele partido, não importa. Se gostamos ou abominamos esse ou aquele militante de um determinado partido, importa ainda menos.
Os chefes do Executivo e Legislativo representam os eleitores. O Judiciário não representa ninguém. Ele está lá para julgar imparcialmente e de acordo com a lei. É por isso que seus membros não passam pelo crivo das urnas.
Mas é também por isso que seus votos e atos são todos justificados. Quando um deputado vota, ele não precisa justificar seu voto, mas o voto de um magistrado é sempre fundamentado.
Podemos até não gostar do resultado de um julgamento, mas suas decisões são sempre justificadas.
E, para justificar sua decisão, o magistrado teve de ler o processo para chegar à conclusão proferida em seu voto. O mesmo processo que a maior parte de nós (população e jornalistas) não leu.
Isso nos coloca em uma posição muito delicada. Quando criticamos uma decisão sem ler o processo, estamos afirmando que entendemos o que não lemos; que, mesmo sem lermos, entendemos mais do que quem leu. Pior: que somos capazes de julgar sem conhecermos e sem entendermos.
A desculpa que damos nessas horas é que outros magistrados julgaram de forma diferente. Sim, mas eles também foram votos vencidos em alguns momentos. Tomamos partido, dizemos que este magistrado entende mais do que aquele sem nos darmos ao trabalho de lermos o processo.
Imagine qual seria nossa reação se lá pelas tantas descobríssemos que um determinado magistrado não leu o processo que acabou de julgar. Ficaríamos estarrecidos e enojados. Mas nós mesmos fazemos isso o tempo todo e achamos isso extremamente normal.
Quase sempre emitimos opiniões baseadas nas características físicas, fisionomia ou cargos ou mesmo posicionamento ideológico de alguém. Basta alguém assumir um cargo e ele se torna objeto de nosso escárnio. Culpado por presunção.
Temos opiniões fortes sobre o que não conhecemos e não entendemos. E achamos isso aceitável e até mesmo louvável. E esquecemos que democracia não é feita com ‘achismos’ ou pitacos, mas com conhecimento e prudência. Justamente aquilo que nos falta ao darmos um pitaco.
Esquecemos que quando adquirimos o hábito de hostilizar quem está em uma posição de poder, criamos um círculo vicioso: se tal posição será hostilizada, quem está bem preparado para ela - mas não quer ser hostilizado -, simplesmente não irá assumí-la. Ficará na iniciativa privada, sairá do país etc. O que deixa tal posição aberta para ser assumida por aqueles que não se importam com a hostilização; preparados ou não para ocupá-la. Nosso comportamento antidemocrático aliena bons servidores públicos e atrai aqueles que não deveriam estar em posição de poder.