Como toda lista, ajuda nossa necessidade evolucionária de simplificar dados complexos em algo fácil de entender, ainda que isso signifique deixar de fora milhares de fatores importantes.
Mas esse não é o ponto que vamos levantar aqui e muito menos a razão de ela aparecer em um site de direito.
Ela serve para ilustrar um problema essencial do direito, e com o qual todas as sociedades se debatem: a igualdade.
A lista apresenta um índice geral para os países, sem olhar se a criança nasceu em uma família rica ou pobre, branca, preta, parda ou amarela, homem ou mulher, membro de uma minoria ou maioria, sua etnia, se seu grupo social é conectado ou desprezado pelo governo, e assim vai.
Em países homogêneos e relativamente pequenos, esse defeito da lista tende a não gerar grandes problemas. Em países desenvolvidos, também não. Isso porque suas políticas públicas visam justamente garantir que as pessoas sejam tratadas mais ou menos de forma igual (mas nem sempre. Basta lembrar do exemplo da Swazilandia).
Já países em desenvolvimento, como o Brasil, tendem a apresentar uma distorção significativa.
Um homem branco nascido em berço de ouro em São Paulo provavelmente estará em melhor posição não só que o suíço médio, mas também em relação a seu correlato na Suíça. Mas uma mulher negra e pobre nascida em alguma vila nos Estados mais pobres, provavelmente estará em uma condição muito pior que sua correlata suíça.
E é aí que entra a questão jurídica.
Uma das principais funções da lei é refletir como uma sociedade se vê e como ela deseja tratar essas diferenças.
Pense nisso: é melhor ter 99 pessoas muito felizes e uma pessoa totalmente infeliz, que suporta em seus ombros o custo da felicidade dos outros 99, ou é melhor ter 100 pessoas que não são nem felizes e nem infelizes?
Se parece puro diletantismo, pense em como isso se reflete nas leis. É melhor correr o risco de ter uma pessoa inocente sendo injustamente presa ou dezenas de culpados sendo inocentados? É melhor desapropriar uma fazenda e assentar dez sem terras, ou é melhor proteger o direito à propriedade do dono? É melhor construir um ótimo hospital na capital e deixar a população das pequenas cidades sem assistência, ou é melhor ter dezenas de pequenos hospitais espalhados por inúmeras cidades, mas nenhum hospital realmente de ponta? E assim vai. Todas as leis, sem exceção, de uma forma ou de outra refletem essas opções.
Esse é o cerne que liga - ou deveria ligar - todas as nossas leis. É uma decisão social que precisa ser tomada, para que as leis se tornem coerentes. Sem uma direção clara, vivemos em um país de leis incoerentes, que ora parecem indicar um caminho, ora outro.