"Homicídio é um crime pouco freqüente no Tatuapé. Segundo a pesquisa DNA Paulistano, do Datafolha, apenas 4% dos moradores conhecem alguém que tenha sido assassinado no próprio bairro, um dos menores percentuais da cidade. Por outro lado, o distrito tem o segundo maior índice da cidade para assalto, roubo e agressão - 14% dos moradores disseram já ter sido vítima de um destes crimes no período de um ano. As maiores vítimas são as mulheres -16%, contra 13% dos homens- e pessoas com renda superior a dez salários mínimos -20%."
A matéria acima ajuda a explicar porque, quando estamos escrevendo sobre direito e estatísticas, devemos evitar o uso de termos como assassinato, assalto ou agressão, que não têm qualquer sentido técnico e só criam confusão na cabeça do leitor.
Na primeira parte, o repórter diz que homicídio é um crime pouco freqüente, e que apenas 4% conhecem alguém que tenha sido assassinado. O problema é que o percentual de pessoas que conhece alguém vitima de homicídio pode ser ainda menor, já que ninguém sabe o que o repórter entende por assassinato. Ele pode querer dizer homicídio, mas ele pode estar também tentando dizer qualquer outra forma de morte violenta, como o latrocínio (roubo seguido ou precedido de morte, que era o caso da matéria acima), a lesão corporal seguida de morte, o infanticídio, o envenenamento com resultado morte, o estupro com resultado morte etc, etc, etc. Em outras palavras, porque o repórter não utilizou o termo correto, a informação dada é inútil pois assassinato não tem um significado especifico e o leitor não tem como descobrir do que ele esta falando.
A mesma coisa ocorre com a segunda parte: ele diz que 14% das pessoas conhecem alguém que foi vítima de roubo (que é um termo técnico), ou assalto ou agressão, que não são termos técnicos. O que o repórter quis dizer com assalto? Extorsão? Extorsão mediante seqüestro? Furto? Furto qualificado? Apropriação indébita? E o que ele quis dizer com agressão? Tentativa de homicídio? Lesão corporal? Maus tratos? Vias de fato? Rixa? Estupro? Não dá pra saber pois todos os delitos são, de uma forma ou de outra, uma agressão ao individuo, ao Estado e à sociedade.
É como usar a palavra "coisa" para descrever um objeto específico: você sabe que se refere a algum objeto, mas não tem qualquer idéia sobre a que objeto ela se refere. Pode ser uma cadeira, pode ser um avião, pode ser um jornal. Tentar utilizar a linguagem correta não é preciosismo lingüístico: é bom senso.