“Redução de crime fica mais difícil, afirma secretaria
O governo de São Paulo trabalha com um cenário de estagnação da taxa de homicídios nos próximos anos, em nível bem acima de índices europeus e sul-americanos.
Projeção feita pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) no PPA (Plano Plurianual 2012-2015) fixa como meta o índice de 9,5 mortes por ano a cada 100 mil habitantes.
A taxa aponta recuo pequeno em relação a 2010 (10,47) - maior queda houve de 2000 (34,18) para 2005 (17,7).
Se a taxa chegar mesmo a 9,5 em 2015, deixaria o Estado em situação pior que a de Argentina (5,2), Uruguai (5,8) e Chile (8,1), segundo relatório da ONU de 2010, com números de 2008. EUA e Reino Unido têm índices perto de 5.
Para a Secretaria da Segurança Pública, fica mais difícil reduzir crimes, pois eles são localizados, frutos de rixas pessoais ou passionais”
Quando vamos comparar dados estatísticos – inclusive de crimes – devemos comparar coisas iguais. Laranja com laranja, banana com banana. Não podemos compara bananas com laranjas. Ou, no caso acima, um estado com um país. A matéria tenta comparar os dados estatísticos de um estado (São Paulo) com os dados estatísticos de vários países. Mas, dentro de cada um desses países, há variações gigantescas que fazem com que a média não reflita a realidade.
Um exemplo prático usando os dados da própria matéria: ela diz que os EUA tem uma média de 5 homicídios por 100 mil habitantes o que aparentemente quer dizer que o estado de São Paulo é pior do que os EUA. Mas se olharmos Flint, em Michigan, que é a cidade mais violenta dos EUA, veremos que ela teve uma média de 49 homicídios para cada 100 mil habitantes em 2010. Detroit, a segunda cidade mais violenta (e também em Michigan), teve 34 homicídios por 100 mil habitantes no mesmo período. Logo, morar no estado de São Paulo é melhor do que morar nessas duas cidades dos EUA, mas pior do que morar na média das cidades dos EUA. Comparar estados com países não faz sentido, da mesma forma que comparar um estado com duas cidades também não faz. Cidades menores são, geralmente, menos violentas do que cidades maiores e levam a média de um estado ou país para baixo.
Se formos comparar o estado de São Paulo com alguma coisa, devemos comparar com algo que seja igual. Por exemplo, podemos comparar São Paulo com um outro estado com as mesmas dimensões físicas, ou com uma população do mesmo tamanho, ou com um PIB na mesma ordem de grandeza. Michigan, por exemplo, tem uma população de 9,9 milhões de pessoas e 627 homicídios em 2009(*). Isso dá uma média de 6,3 homicídios por 100 mil habitantes(**), algo como 35% a menos do que São Paulo. Mas faz sentido compara um estado dos EUA com um do Brasil? Isso vai depender do que você acha importante.
Se olharmos em termos de população, o estado de São Paulo tem uma população 4 vezes maior que o estado de Michigan. Mas se olharmos em termos de tamanho físico, eles são idênticos (Michigan em 250 mil km2 e 248 mil km2 em São Paulo). Já se olharmos em termos de PIB, não faz sentido porque Michigan tem um PIB que é a metade do PIB do estado de São Paulo (US$372 bilhões contra US$629 bilhões). E se olharmos em termos de PIB per capita veremos que São Paulo tem um PIB per capita de US$15 mil, enquanto Michigan tem um PIB per capita de US$38 mil. Ou seja, podemos achar boas razões para fazer uma comparação entre os dois estados, e argumentos que mostram que comparar um com o outro não faz qualquer sentido. Quando estamos comparando duas coisas, não precisamos apenas comparar duas coisas similares, mas também devemos deixar claro no que elas são similares e por que a comparação é relevante.
Um outro detalhe interessante da matéria é que ela compara dados atuais (de uma cidade) com dados antigos (de um país). É a mesma coisa de comparar bananas compradas hoje com bananas compradas em 2008. Você comeria hoje a banana comprada em 2008? Os números de São Paulo são de 2010, mas os números dos países são de 2008. Isso não faz sentido porque o mundo mudou muito desde então.
Comparações históricas só fazem sentido quando estamos comparando as mesmas coisas. Por exemplo, Belo Horizonte em 2010 com Belo Horizonte em 2009; ou Bahia em 1900 com Bahia em 2000. Comparar Bahia com Belo Horizonte já não faz sentido algum. Comparar Belo Horizonte hoje com Bahia em 2008 faz ainda menos sentido.