“Julian Assange: Ecuador grants Wikileaks founder asylum
The UK Foreign Office had warned, in a note, that it could lift the embassy's diplomatic status to fulfil a ‘legal obligation’ to extradite the 41-year-old by using the Diplomatic and Consular Premises Act 1987.
That allows the UK to revoke the diplomatic status of an embassy on UK soil, which would potentially allow police to enter the building to arrest Mr Assange for breaching the terms of his bail.
Ecuador's foreign minister said: ‘We can't allow spokespeople from the UK to gleefully say they have been honest when they have threatened us in such a way.’
He referred to the UK's note as an "open threat" and accused the UK of ‘basically saying we will beat you savagely if you don't behave’”
Chantagem, entre pessoas ou países, via de regra, é melhor na surdina. A razão tem menos a ver com moralidade e mais com a lógica.
Do lado de quem ameaça
Primeiro, uma chantagem (e o mesmo vale para quem promete algo na tentativa de corromper) só gera resultado se o outro lado acredita que quem ameaça pode de fato cumprir o que ameaçou. Se eu te prometo um bilhão de reais você só vai cumprir o trato se acreditar que (a) eu tenha essa quantia e (b) que eu vá entregá-la a você.
Se eu prometo e não cumpro, você pode ficar muito zangado comigo ou pode mesmo contratar alguém para quebrar minha perna. Mas meu débito moral é apenas com você. Você é a única pessoa que sabe que eu ameaço ou prometo e não cumpro. Se eu tiver como me proteger de sua ira e não me importar com o seu julgamento moral, não há problema algum em deixar minha honra ir por ladeira abaixo.
Mas ao levar minha ameaça ou promessa a público, eu não preciso me preocupar apenas com sua reação da outra parte: preciso me preocupar com a reação de todos os outros atores com os quais interajo ou poderei interagir. Eu posso até não me importar com você, mas me importo com os outros.
Pense na crise dos mísseis em Cuba (que completa 50 anos em outubro desse ano). Foi o momento em que chegamos mais próximo de uma guerra nuclear. Por que chegamos tão próximos do holocausto? Porque EUA e URSS ameaçaram-se publicamente. Tão logo a ameaça se tornou pública, não dava mais para retroagir pois perderiam o respeito dos demais países, inclusive de seus aliados.
É por isso que diplomatas estão sempre tentando buscar soluções negociadas: sabem que em política internacional – como em briga de escola – uma afronta pública é sempre respondida com outra pior. Então, é melhor apenas ameaçar se você realmente está preparado para cumprir sua ameaça.
Além disso, ao ser levado ao público, o cálculo lógico se torna imensamente mais complexo. Uma ameaça do Reino Unido contra o Equador na surdina é uma análise matemática simples: sou mais forte que o Equador e posso agir violentamente sem me preocupar com uma retribuição daquele país. Mas ao chegar ao público, uma ameaça dessa pode por a opinião pública britânica contra o governo britânico (pense na Guerra do Vietnã, por exemplo), ou enfraquecer a posição britânica em futuros casos quando ele se encontrar na posição do Equador.
Em abril desse ano, por exemplo, um advogado cego chinês se refugiou na embaixada americana em Beijing porque era perseguido depois de ir a público denunciar a atuação de autoridades chinesas. A China nunca ameaçou invadir a embaixada americana ainda que o advogado fosse um fugitivo da polícia local. Se o governo britânico agora invadir a embaixada do Equador, no futuro outros governos mais fortes poderão usar esse mesmo precedente quando alguém se refugiar em uma embaixada britânica.
Do lado de quem é ameaçado
Ao levar o caso a público, o governo do Equador tornou o que seria um problema seu, em um problema para o governo britânico. Ou pense no que um ministro do STF recentemente fez ao levar ao conhecimento público a conversa (segundo ele uma chantagem velada) que teve com o ex-presidente da República: na surdina, a ameaça era um problema seu. Mas ao levar o assunto ao conhecimento público passou o problema para quem o ameaçou.
Mas o governo equatoriano fez mais duas coisas ao trazer a amaeaça a público: para o bem e para o mal, estabeleceu uma reputação. No futuro, governos negociando com o Equador saberão que não devem esperar sigilo, logo é melhor dizerem apenas aquilo que não temem vir a público. Algo como ‘não tente me ameaçar quando estivermos a sós’.
Segundo, entrou em um caminho sem retorno. Ao levar a conhecimento do mundo que estava decidindo depois de ser ameaçado, ele vinculou a decisão à ameaça. Se negasse asilo, seria percebido como um governo suscetível a pressões. O caminho sem retorno é um ato de desespero, mas que mostra ao mundo que aquele governo está disposto a ir para o tudo-ou-nada.