Adolescentes com peso normal mas que se sentem gordos têm duas vezes mais probabilidade de se tornarem adultos gordos. Esses são os resultados de uma pesquisa com quase 1.200 adolescentes ao longo de uma década feita pela equipe do doutor Koenraad Cuypers, da faculdade de medicina da Universidade de Ciência e Tecnologia da Noruega. Segundo os resultados da pesquisa, enquanto apenas 31% dos adolescentes com peso normal que não se sentem gordos ficam acima do peso quando chegam à idade adulta, esse percentual dobra (59%) entre os adolescentes de peso normal que se acham gordos. Segundo a pesquisa, nem a prática de exercícios físicos parecem conseguir compensar os efeitos de uma auto-percepção negativa. Para o especialista, é importante adotar políticas públicas que ajudem os jovens a se aceitarem.
Leia abaixo trechos da entrevista exclusiva para o Pensando Direito:
Sua pesquisa mostra que adolescentes com peso normal mas que se sentem gordos são muito mais propensos a tornarem-se gordos quando chegam à idade adulta. Por que isso acontece?
Apresentamos algumas hipóteses para que isso esteja ocorrendo. Primeiro, adolescentes que se sentem gordos mudam seu comportamento alimentar - por exemplo não tomam café da manhã, o que tende a levar à obesidade - e a fazerem dietas radicais – que não são sustentáveis a longo prazo, gerando um efeito ioiô que causa o excesso de peso a longo prazo. Segundo, o adolescente está em um período de desenvolvimento físico e psicológico, tentando encontrar seu lugar entre seus pares e construir sua própria identidade. A mídia expõe a ele, constantemente, imagens de um ‘corpo ideal’, e eles acabam aceitando que tal corpo é a chave para pertencer ao grupo ou terem sucesso. Sentem-se pressionados a serem atraentes para o sexo oposto e serem socialmente aceitos. Tamanha pressão psicossocial, como já foi diversas vezes mostrados em outros estudos, gera um resultado oposto e acaba levando ao ganho de peso.
O que pode ser feito a respeito em termos de política pública?
Nossos resultados indicam que os responsáveis por políticas públicas, juntamente com os meios de comunicação de massa, deveriam tentar mudar o foco do que é desejável: em vez do corpo magro com baixo percentual de gordura (o que por si mesmo não é necessariamente saudável), deveriam focar no estilo de vida saudável. Precisamos também passar a enfatizar que pessoas saudáveis podem ter corpos diferentes e isso deve ser socialmente aceito. Todos temos corpos diferentes e devemos mudar as normas do que é desejável socialmente, ajudando adolescentes a construírem uma percepção corporal positiva e, por consequência, sua autoestima.
Você enfatiza o papel da mídia...
Deixe-me dar um exemplo: há alguns dias os três maiores jornais da Noruega publicaram na primeira página artigos sobre como perder peso e entrar em forma para o verão. Naquela mesma noite meus dois filhos estavam assistindo um desenho animado no qual as personagens tinha corpos em forma de garrafa de refrigerante, com cinturas extremamente finas. É assim que nossos filhos acabam, sem perceber, condicionados a aceitarem um ideal de beleza corporal de corpos extremamente magros e que não é real.
E qual é o papel da escola?
Acho que esse é um ponto fundamental. É nela onde podemos atingir praticamente todas as crianças. E sabemos que as redes sociais formadas na escola são extremamente importantes para os adolescentes.
É essencial que as escolas passem a enfatizar o fato de que modelos corporais distintos são igualmente normais, bem como ajudem a diminuir a erotização do corpo, especialmente entre as meninas.
E a tentativa de alguns países de estabelecerem idade e índice de massa corporal mínima para modelos?
Acho que pode ser um passo importante na luta para que as modelos se aproximem do padrão de beleza saudável de mulheres normais.
Há como mitigar o impacto de uma autoimagem negativa entre aqueles que já saíram da adolescência?
Como a OMS já reconhece há algum tempo, a obesidade é uma epidemia mundial, e devemos preveni-la e tentar curá-la. Mas para aqueles adultos que já estão sofrendo com o excesso de peso, acho que o primeiro passo é tentar se aceitar: mente sã, corpo são.
Link para a pesquisa: Being normal weight but feeling overweight in adolescence may affect weight development into young adulthood.
Leia abaixo trechos da entrevista exclusiva para o Pensando Direito:
Sua pesquisa mostra que adolescentes com peso normal mas que se sentem gordos são muito mais propensos a tornarem-se gordos quando chegam à idade adulta. Por que isso acontece?
Apresentamos algumas hipóteses para que isso esteja ocorrendo. Primeiro, adolescentes que se sentem gordos mudam seu comportamento alimentar - por exemplo não tomam café da manhã, o que tende a levar à obesidade - e a fazerem dietas radicais – que não são sustentáveis a longo prazo, gerando um efeito ioiô que causa o excesso de peso a longo prazo. Segundo, o adolescente está em um período de desenvolvimento físico e psicológico, tentando encontrar seu lugar entre seus pares e construir sua própria identidade. A mídia expõe a ele, constantemente, imagens de um ‘corpo ideal’, e eles acabam aceitando que tal corpo é a chave para pertencer ao grupo ou terem sucesso. Sentem-se pressionados a serem atraentes para o sexo oposto e serem socialmente aceitos. Tamanha pressão psicossocial, como já foi diversas vezes mostrados em outros estudos, gera um resultado oposto e acaba levando ao ganho de peso.
O que pode ser feito a respeito em termos de política pública?
Nossos resultados indicam que os responsáveis por políticas públicas, juntamente com os meios de comunicação de massa, deveriam tentar mudar o foco do que é desejável: em vez do corpo magro com baixo percentual de gordura (o que por si mesmo não é necessariamente saudável), deveriam focar no estilo de vida saudável. Precisamos também passar a enfatizar que pessoas saudáveis podem ter corpos diferentes e isso deve ser socialmente aceito. Todos temos corpos diferentes e devemos mudar as normas do que é desejável socialmente, ajudando adolescentes a construírem uma percepção corporal positiva e, por consequência, sua autoestima.
Você enfatiza o papel da mídia...
Deixe-me dar um exemplo: há alguns dias os três maiores jornais da Noruega publicaram na primeira página artigos sobre como perder peso e entrar em forma para o verão. Naquela mesma noite meus dois filhos estavam assistindo um desenho animado no qual as personagens tinha corpos em forma de garrafa de refrigerante, com cinturas extremamente finas. É assim que nossos filhos acabam, sem perceber, condicionados a aceitarem um ideal de beleza corporal de corpos extremamente magros e que não é real.
E qual é o papel da escola?
Acho que esse é um ponto fundamental. É nela onde podemos atingir praticamente todas as crianças. E sabemos que as redes sociais formadas na escola são extremamente importantes para os adolescentes.
É essencial que as escolas passem a enfatizar o fato de que modelos corporais distintos são igualmente normais, bem como ajudem a diminuir a erotização do corpo, especialmente entre as meninas.
E a tentativa de alguns países de estabelecerem idade e índice de massa corporal mínima para modelos?
Acho que pode ser um passo importante na luta para que as modelos se aproximem do padrão de beleza saudável de mulheres normais.
Há como mitigar o impacto de uma autoimagem negativa entre aqueles que já saíram da adolescência?
Como a OMS já reconhece há algum tempo, a obesidade é uma epidemia mundial, e devemos preveni-la e tentar curá-la. Mas para aqueles adultos que já estão sofrendo com o excesso de peso, acho que o primeiro passo é tentar se aceitar: mente sã, corpo são.
Link para a pesquisa: Being normal weight but feeling overweight in adolescence may affect weight development into young adulthood.