Analisando 166 escândalos de corrupção ao redor do mundo (incluindo o Brasil), nos quais 107 empresas de capital aberto pagaram propina a servidores públicos entre 1971 e 2007, os pesquisadores das universidades de Cambridge e Hong Kong chegaram a alguns resultados fascinantes sobre o mundo da corrupção. Os dados indicam que alguns fatores sempre afetam o valor da propina paga pela empresa (que ficou na média de US$2,5 milhões):
Eficiência da empresa
Empresas menos eficientes pagam mais propina que empresas mais eficientes, mas se beneficiam menos (asseguram contratos com valores menores). Para uma empresa eficiente, pagar propina custa menos e gera mais lucro; enquanto para uma empresa ineficiente, pagar propina custa mais e gera menos lucro.
Objetivos de venda da empresa
Empresas que tentam aumentar o volume de vendas mais do que a média de crescimento do mercado pagam mais propinas.
Ranking do servidor subornado
Quanto mais elevado o cargo do servidor, maior o valor da propina a ser pago. Eles chegam mesmo a calcular os valores por cargo. Por exemplo: presidentes, ministros e parlamentares recebem propinas que variam entre US$7,6 e US$16,8 milhões (ou entre 0,8% e 1,5% do valor dos ativos da empresa, ou 4,42% do valor contrato). Já governadores e prefeitos recebem bem menos: US$200 mil (ou 0,1% dos ativos ou 0,1% do valor do contrato). Isso porque quanto mais elevado o cargo, mais dinheiro o servidor controla e, por conseguinte, maior o valor do contrato a ser assinado. Além disso, como eles possuem cargos mais elevados, a possibilidade de garantirem um resultado favorável à empresa também é maior.
Mas, e esse ponto é importante, o benefício líquido para quem corrompe permanece mais ou menos o mesmo: ainda que a empresa ganhe um contrato maior quando suborna um servidor mais graduado, como o servidor cobra mais pelo suborno, é ele – e não a empresa – quem mais se beneficia. O lucro líquido para a empresa (o aumento do valor de suas ações por dólar pago) permanece praticamente o mesmo.
Características do país-sede da empresa que paga propina
Empresas sediadas em países que impõem mais responsabilidade aos diretores e onde há maior circulação de jornais, tendem a pagar menos propina porque há maior transparência. Por outro lado, empresas sediadas em países em que há maior competição pagam mais propina.
Características do país no qual a propina é paga
Empresas pagam mais propina em países com PIB baixo (o que está correlacionado a países com instituições mais frágeis), com grande percentual de pessoas nas forças armadas (o que está relacionado com ditaduras e autoritarismo), com mais limitações e tributos de importação, mais regulamentação (afinal, quanto maior o número de leis, maior a possibilidade de tentar atrapalhar a vida das empresas), e nas quais as rendas de políticos são menos transparentes.
Além disso, quanto menos confiável for a polícia, pior for a distribuição de renda, e menores forem as liberdade civis, mais as empresas pagarão propinas.
A corrupção vale a pena?
A resposta, infelizmente, é que vale. E muito. Para cada dólar pago em propina nos 166 casos estudados, o valor de mercado da empresa aumentou entre US$10,18 e US$11,46. Isso explica por que tantas empresas ainda pagam propina: visto friamente, é um ótimo investimento.
Mas, quanto maior o valor do contrato, maior o valor da propina a ser pago, o que faz com que o lucro total gerado pela corrupção se mantenha o mesmo para a empresa que corrompe. Em outras palavras, financeiramente vale a pena para a empresa pagar a propina, mas não vale a pena pagar valores altos para assegurarem contratos maiores porque quem se beneficia é o servidor público corrompido e não a empresa.
Por último, o estudo também observou que a possibilidade de a corrupção ser descoberta ou vir a ser punida não afeta o valor das ações das empresas envolvidas. Os investidores não se importam com tais riscos.
Existe, contudo, um par de detalhes (que os próprios pesquisadores admitem) que precisam ser levados em conta quando analisamos os resultados:
A pesquisa leva em conta apenas casos em que as empresas pagaram propina, ganharam o contrato esperado, e depois foram descobertas. Os dados não incluem nem os casos de empresas que pagaram propina e não ganharam os contratos esperados, e nem os casos de empresas que pagaram propina e não foram descobertas.
O outro problema é que o estudo foca apenas nos escândalos maiores, e não em valores pequenos, como a propina paga a um fiscal para que a empresa não seja multada. Por isso não dá para saber se esses casos envolvendo valores menores e/ou servidores mais baixos possuem características similares aos casos mais graves.