“Confirmando as expectativas, Francisco Everardo Oliveira Silva, o Tiririca (PR-SP), foi o campeão de votos para a Câmara dos Deputados.
Com 99,9% das urnas de São Paulo apuradas, ele tinha 1,353 milhão de votos, número próximo ao recorde nacional, que é de Enéas Carneiro (Prona-SP) - 1,57 milhão de votos em 2002.
Logo atrás vinham o ex-governador Anthony Garotinho (PR-RJ), com 694 mil votos (99,8% das urnas apuradas), e Gabriel Chalita (PSB-SP), com 559 mil.
Proporcionalmente ao número de votos válidos, o ‘campeão’ no país foi José Antonio Reguffe (PDT) - 19% dos votos válidos do DF.
Na lista dos prováveis eleitos não figuravam campeões de votos como Paulo Maluf (PP-SP) - que não teve os votos validados devido à sua candidatura estar ameaçada na Justiça- e José Genoino (PT-SP), presidente do PT durante o escândalo do mensalão, em 2005.
Apesar de ajudado pela enorme votação de Tiririca, que é de sua coligação, o petista deveria perder a cadeira por cerca de mil votos.
Uma das últimas vagas dessa coligação deveria ir para o delegado Protógenes Queiroz (PC do B-SP), que investigou o banqueiro Daniel Dantas na Operação Satiagraha. E, se for eleito, será graças a Tiririca (...)
Da bancada de ex-jogadores de futebol que se candidataram, o ex-goleiro do Grêmio Danrlei (PTB-RS) foi o mais votado, com 174 mil votos, desbancando Romário (PSB-RJ), 147 mil votos.
No Rio, os 241 mil votos do deputado Chico Alencar (PSOL) levavam para a Câmara Jean Wyllys, ex-participante do ‘Big Brother Brasil’, que havia obtido apenas 13 mil votos”.
Ontem vimos o que é e como é calculado o quociente eleitoral e os quocientes partidários (o numero de cadeiras que cada partido recebe).
Como vimos, o número de cadeiras recebidos pelo partido vai depender do número de votos dados à legenda (quando a pessoa vota em um partido mas não diz quem daquele partido ele quer eleger) ou a um candidato daquela legenda. Se o partido fizer parte de uma coligação, os votos em todos os partidos e em todos os candidatos daquela coligação serão computados juntos, como se fossem parte de um só grande partido. É por isso que é tão importante saber quais os partidos fazem parte da coligação para a qual você está votando. Você pode estar, com seu voto em um partido, ajudando a eleger alguém de um partido da mesma coligação, do qual você não gosta.
Os candidatos puxadores de votos (candidatos famosos que tendem a atrair o voto de uma grande parte dos eleitores) são importantes porque os votos que eles atraem ajudam a eleger outras pessoas com menor apelo popular daquele mesmo partido ou coligação. Isso porque os votos recebidos por essa pessoa ajudam a inflar o total de votos naquela legenda e aumentar o número de cadeiras ao qual terá direito quando dividirmos o total de votos na legenda pelo quociente eleitoral. Assim, se o quociente eleitoral naquele estado é de 88 mil votos (para se eleger alguém são necessários 80 mil votos), e um candidato muito famoso conseguiu 180 mil votos e um outro menos famoso daquela mesma legenda conseguiu apenas 8 mil e outro, ainda menos famoso, conseguiu 2 mil votos, os dois primeiros serão eleitos pois
- 180 mil + 8 mil + 2 mil = 190 mil votos dado àquela legenda (partido ou coligação).
- Como o quociente eleitoral é 80 mil, devemos dividir o total na legenda pelo quociente eleitoral:
- 190 mil votos / 80 mil = 2,38.
- Mesmo arredondando 2,38 para baixo, como vimos ontem, teremos 2, ou seja, aquele partido terá direito a duas cadeiras.
Por outro lado, o candidato de uma outra legenda que recebeu 70 mil votos pode não ser eleito se a soma de todos os votos recebidos por sua legenda não chegar aos 80 mil votos necessários para se atingir o quociente eleitoral, ou seja, a ter direito a uma cadeira sequer.
É por isso que o assédio em cima de políticos, atletas, líderes sociais e artistas famosos é tão grande pelos partidos: se eles se filiarem àquela legenda eles provavelmente não só serão eleitos, como também ajudarão a eleger outras pessoas menos conhecidas também candidatas por aquela legenda. É por isso também que, depois de eleitos, essas pessoas possuem tanto poder dentro de seus partidos: se elas mudarem para outro partido na próxima eleição, provavelmente várias pessoas eleitas por causa do grande número de votos recebidos por aquele candidato na última eleição, não serão reeleitas depois que ele abandonar aquela sigla.
É por isso também que tantos partidos se unem em coligações: ainda que todos recebam pequenas votações, quando fizermos a soma de todos os votos é bem possível que a coligação consiga o quociente eleitoral necessário para eleger ao menos um candidato (o mais votado dentro daquela coligação).
Amanhã usaremos esse mesmo exemplo para entendermos a discussão sobre o voto em lista fechada.